Viagem a Portugal
José Saramago
Companhia das Letras, 2010, 486p
Resigne-se pois o leitor a não dispor deste livro como de um guia às ordens, ou roteiro que leva pela mão, ou catálogo geral. Às páginas adiante não se há-de recorrer como a agência de viagens ou balcão de turismo: o autor não veio dar conselhos, embora sobreabunde em opiniões. É verdade que se acharão os lugares selectos da paisagem e da arte, a face natural ou transformada da terra portuguesa: porém, não será forçadamente imposto um itinerário, ou orientado habilmente, apenas porque as conveniências e os hábitos acabaram por torná-lo obrigatório a quem de sua casa sai para conhecer o que está fora. Sem dúvida, o autor foi aonde se vai sempre, mas foi também aonde se vai quase nunca.
Na apresentação a Viagem a Portugal, Saramago já avisa que turista é uma coisa; viajante, outra. O autor é viajante; passa por lugares quase fantasmas, sombras de um passado medieval mas que parecem adquirir, ainda que por instantes, nova vida com a passagem do ilustre viajante; vai a lugares absolutamente ignorados pelo turista - é interessante como quanto menos conhecida é a localidade, mais ele se detém a descrevê-la e a senti-la. Conta casos e lendas - e já começa por Miranda do Douro e o Menino Jesus da Cartolinha, com a ironia que lhe é própria para falar de tais assuntos... Do Norte ao Algarve, percorrendo todo o país, Saramago observa com atenção incomum à geografia e à história de seu país.
Mas a Biblioteca voltará a falar, com mais detalhes, deste livro, no final deste mês... Como conclui Saramago, é preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já.
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