Está na sala de D. Quixote, onde se diz que nasceu e morreu D. Pedro IV. Não é este princípio e este fim que comovem o viajante: não faltava mais nada que lacrimejar por coisas tão comuns. O que em verdade o perturba é a incongruência destas cenas da vida do pobre fidalgo manchego, zelador de honra e justiça, louco apaixonado, inventor de gigantes, posto em tal lugar, neste Palácio de Queluz que leu o rocaille à portuguesa e o neoclássico à francesa, e mais errou do que acertou. Há grandes abusos. O desgraçado Quixote, que comia pouco por necessidade e vocação e castidades forçadas padecia mais do que a conta, foi à força metido numa corte com uma rainha que não queria saber de continências e um rei que as fazia muito ao faisão e ao chispe. Se é verdade que nasceu aqui D. Pedro, se nele houve, a par de interesses familiares e dinásticos que convinha assegurar, real amor da liberdade, então D. Quixote de la Mancha fez quanto pôde para vingar-se da afronta de o pintarem nestas paredes. Saramago, Viagem a Portugal, p. 354.
No Palácio de Queluz encerramos a jornada iniciada em Sintra. Os próprios portugueses o comparam a Versalhes.
O tal quarto de D. Quixote está, de fato, lá. Olhando-se para o teto, admirando as representações de passagens do livro de Cervantes, tem-se a impressão de que se trata de um aposento circular; no entanto, é quadrado como todos os outros. Trata-se de uma ilusão de ótica que os paineis no teto causam ao visitante.
Nos jardins, uma boa forma de se passar o final da tarde. Crianças em colônia de férias estão por lá, e nos lembramos que elas são bagunceiras em todas as latitudes e continentes. O pobre do monitor tenta por ordem, mas é inútil.
Lindo palácio!! Para os portugueses, uma cópia em menor escala de Versailles , um tanto exagerada a comparação, mas o fato é que, assim como o francês, os jardins são o ponto forte da visita.
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