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Mostrando postagens de fevereiro, 2014

Conto da semana, de Gonçalo Tavares

Já não eram necessários verbos, tudo estava claro entre os dois. O senhor Cortázar entregou o casaco que o fiscal de novo guardou na sua mala. O mesmo se passou com as calças, a camisa, a carteira; enfim, tudo. Gonçalo Tavares virou um dos autores mais presentes por aqui.  A Última Fiscalização  aparece no site da Revista Pessoa. Aqui, um encontro entre o senhor Cortázar e o fiscal - o inspetor fiscal lá em Portugal. E, de fato, há de se reconhecer que fiscais e advogados não são as categorias mais queridas dos escritores.

Ainda o ladino

Será que alguém se interessa por aqui? Acaba de sair no México Por mi boka , de Myriam Moscona e Jacobo Sefamí, com textos da diáspora sefaradí. Versos de Juan Gelman, cantos de Martín Fierro e até o primeiro capítulo de Don Quixote - aliás, Don Kishot de la Mancha, um senyor de akeyos ke tenian una lansa en el raf, un eskudo antiguo, un kavayo viejo i flako, i un perro kasador. A UNESCO o considera um idioma em vias de extinção, seja pelo extermínio da comunidade sob o nazismo, seja pelo próprio estado de Israel, que decretou como idioma oficial o hebraico, uma língua litúrgica, segundo os autores, e não uma língua viva.

As letras e as chuvas

A literatura brasileira tem um dos seus grandes momentos ao tratar da seca - fiquemos com Vidas Secas , de Graciliano Ramos. Mas o que dizer da chuva? Ocupa ela algum lugar realmente de destaque nas nossas letras?  Os ingleses escrevem e escreveram obsessivamente sobre ela.  A imagem acima data da enchente de Severn, em 1607. Em artigo que pode ser lido, em inglês,  aqui , publicado no The Guardian, Alexandra Harris visita a literatura inglesa debaixo de um imenso guarda-chuvas: de Chaucer a George Szirtes, passando - claro - por Shakespeare.

Conto da semana, de Aleksandr Púchkin

Da sensacional Nova Antologia do Conto Russo, organizada por Bruno Barretto Gomide e editada pela 34, o conto Viagem a Arzrum , de Aleksandr Púchkin (1799-1837), vem a calhar nesta semana de abertura dos jogos olímpicos de inverno em Sochi.  Parei em uma estalagem e no dia seguinte me dirigi aos célebres banhos de Tiflis. A cidade me pareceu populosa. As construções asiáticas e o bazar me fizeram lembrar de Kichiniov. Pelas ruas estreitas e tortuosas corriam burros carregados de cestas; carroças atreladas a bois obstruíam o caminho. Armênios, georgianos, circassianos e persas se aglomeravam na praça assimétrica; entre eles, jovens funcionários russos passavam em cavalos em Karabakh. Uma descrição das pessoas e da paisagem da região que era então submetida ao império russo - sim, os problemas no Cáucaso não são recentes, remontando pelo menos à guerra contra os turcos de 1828-1829. O autor, que não foi incorporado ao exército, resolveu assim mesmo conhecer a região, e o con

Uma educação bilíngue hoje - para um novaiorquino

A ideia da necessidade de uma criança americana aprender francês é hoje mais um reflexo do que propriamente uma ação, como tocar música clássica num casamento de pessoas que vivem no pop moderno. O francês na América educada é hoje uma marca social, originária da já longínqua época em que era a língua internacional da Europa.  O artigo publicado na New Republic defende o ocaso do francês como segunda ou terceira língua do americano. Hoje, o francês é substituído pelo espanhol, e há mais interesse no chinês e no árabe do que no russo e no alemão. E provoca: você quer aprender francês para se comunicar com... quem, exatamente?  Em inglês, o artigo, curto, pode ser lido,  aqui.

Conto da Semana, de Bernard Schlink

A semana registrou a morte de Maximillian Schell (1930-2014), o advogado Hans Rolfe da primeira - e disparada, a melhor - versão de O Julgamento de Nuremberg , de 1961, com Spencer Tracey e Burt Lancaster.  Ele era o advogado dos magistrados acusados de crimes durante o nazismo.  O conto A Menina com a Lagartixa, de Bernard Schlink (1944), integra a antologia Escombros e Caprichos: o melhor do conto alemão do Século XX. O autor alemão é jurista e professor universitário (Filosofia do Direito), ingressando na literatura bem mais tarde. Neste conto, a velha questão da responsabilidade pelos crimes nazistas. Tal como no seu livro mais famoso, que não li - mas vi no cinema: O leitor - o fantasma está presente. No caso, o pai do protagonista tinha sido magistrado no passado mas, agora, trabalhava numa firma de seguros. Fica evidente - caiu em desgraça com a queda de Hitler. Um quadro que a família mantém intriga o jovem - principalmente porque seus pais não o autorizam a utiliz

Revista Samizdat nº 39

AUTOR EM LÍNGUA PORTUGUESA Os Nossos Filhos, em Casa, na Rua, no Passeio, no Liceu, no Colégio, Ramalho Ortigão RECOMENDAÇÕES DE LEITURA Um personagem em busca de seu auto - Tão longo amor, tão curta a vida, de Helder Macedo, Fabio G. Bensoussan CONTO Sempre Assim Será, Joaquim Bispo Os Adúlteros, Henry Alfred Buggalho Milando, Japone Arijuane Memória, Ana Beatriz Cabral Aprendizado, Mario Filipe Cavalcanti Audácia, Rodrigo Domit Dona Dora, Zulmar Lopes Glyn, Volmar Camargo Junior, Sangue do meu sangue, onde espirras?, Cinthia Krimler Duas Bandas, Lília Ramadan Veríssimo de Lima O Quadro, Ana Luiza Drummond O Bilhetinho, Maria de Fátima Santos Triagem, Maria Teresa Hellmeiste Fornaciari Bronca de pai, bronca de filho, Wangle Keindé Um Escrito atrás do livro de poesias de Álvaro de Campos, Amanda Ariana TRADUÇÃO Sobre as Crianças, Gilbran Khalil Gibran CRÔNICA Não sei dizer se isso é um ensaio..., Sullen Rodrigues Rubira Não t

O Bom Soldado Svejk (IV)

O terceiro livro é o último concluído, já que o quarto tem cerca de oitenta páginas (os outros três, aproximadamente 200 cada). Logo no início, um trem carregado de entusiasmados soldados passa pela companhia de Svejk (a 91ª, a mesma na qual serviu o autor); um deles perde o equilíbrio, despenca do vagão e acaba empalado numa alavanca junto aos trilhos... Como diz Hasek, pessoas estúpidas precisam existir. Se todos fossem inteligentes haveria um excesso de bom senso no mundo, que acabaria enlouquecendo. A esta altura, já está evidente: do seu jeito, sendo ridicularizado e desprezado, Svejk demonstra toda sua rejeição ao império e ao imperador. Fica claro que não é o idiota que todos vêem. Do seu jeito, obedecendo automática e inquestionavelmente todas as ordens que recebe, Svejk inviabiliza o funcionamento do Exército. E mais uma série de episódios e situações desfilam pelas páginas - um cadete, Biegler, que literalmente se borra nas calças. Todos pensam se tratar de desint