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Mostrando postagens de janeiro, 2013

A Arca na Revista Samizdat

É com muito prazer e orgulho que comunico a todos que a Revista Samizdat, publicação eletrônica já em seu número 35, publica o meu conto A Arca ! A revista pode ser lida  aqui. Neste número: Por que Samizdat?, Henry Alfred Bugalho RECOMENDAÇÕES DE LEITURA Os Vestígios do Dia, Edweine Loureiro AUTOR EM LÍNGUA PORTUGUESA A Herança , Raul Brandão CONTO Os números de Lucas, Joaquim Bispo Anandaiê, Cláudio B. Carlos O Doutor Adevogado, Henry Alfred Bugalho A Sala Branca, Erik K. Weber Tem Pagode no Kibbutz?, Edweine Loureiro Um Baixo Ruído ao Longe, Fernando Domith A Arca, Fabio Guimarães Bensoussan Aspirações, Rodrigo Domit Há Tanto Carro em Budapeste Hoje em Dia, Luís Felipe Sprotte Terá Sido..., Maria de Fátima Santos O Cemitério e o Sanfoneiro, Fábio W. Sousa Da Utilidade dos Crachás, Zulmar Lopes Trabalhando com o Batedor de Carne, Silvana Michele Ramos Aquilo, Homero Gomes O Transportador, Cinthia Kriemler Um Pierrô Apaixonado, Otávio Martins T

Conto da semana, de Luis Fernando Veríssimo

O conto da semana é de Luis Fernando Veríssimo - O Motel. Está nas Comédias da vida privada (L&PM). Mirtes não se aguentou e contou para a Lurdes: - Viram o teu marido entrando num motel. A Lurdes abriu a boca e arregalou os olhos. Ficou assim, uma estátua de espanto, durante um minuto, um minuto e meio. Depois pediu detalhes. - Quando? Onde? Com quem? - Ontem. No Discretíssimu's. - Com quem? Com quem? - Isso eu não sei. - Mas como?  Era alta? Magra? Loira? Puxava de uma perna? - Não sei, Lu. - O Carlos Alberto me paga. Ah, me paga. Quando Carlos Alberto chegou em casa a Lurdes anunciou que iria deixá-lo. E contou por quê. - Mas que história é essa, Lurdes? Você sabe quem era a mulher que estava comigo no motel. Era você! - Pois é. Maldita hora em que eu aceitei ir. Discretíssimu's! Toda a cidade ficou sabendo. Ainda bem que não me identificaram. - Pois então? - Pois então que eu tenho que deixar você. Não vê? É o que todas as minhas amigas

Revista literária Samizdat

Uma grande notícia: fui aceito para participar, como colaborador, da  Revista Samizdat A partir de fevereiro, e todo dia 4, escrevo no site . E, em breve, sairá a edição nº 35 da revista. Estão todos convidados a visitá-la!

A última experiência surrealista de Lisboa

Na reportagem de Josélia Aguiar, para o Valor Econômico,  a mudança da Livraria Poesia Incompleta, de Lisboa para o Rio - mais precisamente, a Lapa. Segundo Mário Guerra, o Changuito, seu proprietário e único funcionário, a burocracia do Brasil, que lembra a de Portugal, seria "uma espécie de Kafka com Monthy Python". Uma das pouquíssimas do mundo a só vender livros de poesia.

Oblomov segundo Carpeaux

Gontcharov é, para a literatura universal, o autor de um livro só, do romance Oblomov: um dos maiores livros de todos os tempos. Tem elementos para agradar os grupos mais diferentes de leitores; mas para compreender bem a obra precisa-se de uma qualidade preciosa e rara entre os leitores modernos: de paciência. Porque em Oblomov não se passa nada: ou antes, o que se poderia chamar "ação", nesse romance, só se passa para iluminar a inação do herói, da qual tudo depende. (...) É o romance mais estático da literatura universal; o romance do infinito enfado universal. História da Literatura Universal, volume III, p. 1796. E portanto lá vamos nós... iniciando a leitura da tradução feita por Rubens Figueiredo e suas mais de 700 páginas.

Le Requiem de Franz, de Pierre Charras

Chegar a um livro que não foi traduzido para o português não é fácil; se esse livro nem em inglês foi editado, pior ainda. Por uma recomendação de um livreiro português que trabalha na livraria Tschann, em Paris, há alguns anos, cheguei a este livro de Pierre Charras (1945), autor com vasta produção e bastante conhecido na França. É também tradutor do inglês e ator de cinema. Neste Requiem de Franz, publicado pela Mercure de France e obviamente sem a menor previsão de chegada por aqui, o próprio Schubert nos conta sua breve vida. Após um início que lembra os de Machado de Assis - eis o meu fim. Ninguém jamais pronunciará o nome de Schubert novamente - o compositor fala de sua infância, de sua mãe, de sua obsessão pela música e sua devoção a Mozart e Beethoven (de cujo funeral participou emocionada e ativamente), da sífilis.  Um romance curto, de 110 páginas, num francês que se mostra agradável a quem ainda está estudando o idioma, e dividido em capítulos curtos - 14, c

Três rosas e um conhaque para Edgar Allan Poe

Poe nasceu em 19 de janeiro de 1809. Dele li alguns contos mais famosos e o romance A narrativa de Arthur Gordon Pym, publicada aqui pela Cosac Naify. Por cerca de 60 anos, desde 1949, um desconhecido ia ao seu túmulo nesta data, deixando três rosas e uma garrafa de conhaque. Mas nos últimos anos, desapareceu, e a tradição parece ter se perdido. Será que alguém irá retomá-la hoje? O próprio Poe faria misérias com um enredo desses...

Conto da semana, de Edwidge Danticat

O conto A aparição, que faz parte da Antologia Pan Americana de Stéphane Chao (Record, 2010), é talvez o primeiro texto da haitiana Edwidge Danticat (1969). Chao a classifica não como haitiana, mas sim uma "exilada linguística". Mudou-se aos 12 anos para Nova York, e recentemente apareceu na TV brasileira, no programa Milênio, entrevistada pelo Jorge Pontual. - Você já vigiou a fronteira antes - disse doutor Berto - Já fez patrulha lá. E sabe que a maioria dos meus pacientes são haitianos. Cortadores de cana, muitos deles. - O que você faz por eles? - Normalmente recebemos dez ou doze para examinar, com doenças digestivas ou malária. Ontem foram cento e dez. Tivemos que estender lençois pelo terreno da clínica e deitá-los ali, para cuidar deles do lado de fora, ao ar livre. Muitos tinham sido feridos a facão. A alguns faltava um membro. Disseram que tinham sofrido uma emboscada à noite, atacados por soldados. - Isso é ridículo. - Você não pensaria assim se os tive

O bom viajante segundo Elias Canetti

O que é a língua? O que ela esconde? O que nos rouba? Ao longo das semanas que permaneci no Marrocos, não tentei aprender nem árabe nem os dialetos bérberes. Não quis perder nada do poder exótico dos seus gritos. Queria ser atingido por seus gritos, tal como eles eram, sem enfraquecê-los devido a um saber artificial e insuficiente. Não havia lido nada sobre o país. Seus costumes me eram tão estranhos quanto seus habitantes. O pouco que se aprende sobre um país e um povo durante uma vida facilmente se esquece nas primeiras horas. Mas restou-me a palavra Alá e esta eu não pude evitar. Com isso eu estava equipado para a minha experiência mais frequente, mais comovente e duradoura: a dos cegos. Em viagens aceitamos tudo, a indignação fica em casa. Olha-se, escuta-se, encantamo-nos com as coisas mais terríveis, porque são novidades. O bom viajante não tem coração. Elias Canetti, Vozes de Marrakesh. L&PM, 1987, p. 28. Tradução de Marijane Lisboa

Conto da semana, de Jorge Luis Borges - Episódio do Inimigo

Voltamos a Borges. Este curto Episódio do Inimigo está no 2º volume das Obras Completas editadas pela Globo. É um bom método para se livrar de inimigos: Tantos anos fugindo e esperando e agora o inimigo estava na minha casa. Da janela o vi subir penosamente pelo áspero caminho do cerro. Ajudava-se com um bastão, com o torpe bastão em suas velhas mãos não podia ser uma arma, e sim um báculo. Custou-me perceber o que esperava: a batida fraca na porta. Fitei-o, não sem nostalgia, meus manuscritos, o rascunho interrompido e o tratado de Artemidoro sobre os gregos. Outro dia perdido, pensei. Tive de forcejar com a chave. Temi que o homem desmoronasse, mas deu alguns passos incertos, soltou o bastão, que não voltei a ver, e caiu em minha cama, rendido. Minha ansiedade o imaginara muitas vezes, mas só então notei que se parecia de modo quase fraternal, com o último retrato de Lincoln. Deviam ser quatro da tarde. Inclinei-me sobre ele para que me ouvisse. - Pensamos que os anos pa

Os Malaquias, de Andrea del Fuego

  Os Malaquias Andrea del Fuego Língua Geral, 2011 272 p. Um gato esticou as pernas, as paredes se retesaram. A pressão do ar achatou os corpos contra o colchão, a casa inteira se acendeu e apagou, uma lâmpada no meio do vale. O trovão soou comprido até alcançar o lado oposto da serra. Debaixo da construção a terra, de carga negativa, recebeu o raio positivo de uma nuvem vertical. As cargas invisíveis se encontraram na casa dos Malaquias. p. 7.  Leia, aqui, o primeiro capítulo. Outro livro que fiquei devendo em 2012, este que recebeu o Prêmio Saramago de 2011. Confesso que não conhecia a autora, Andrea del Fuego (1975), até o anúncio da premiação.  Nico, de olhos azuis; Antônio, miúdo, e Júlia, barriguda. Os três irmãos que vivem em Serra Morena - são os Malaquias do romance. Com exceção deles, os habitantes eram pardos como mamíferos silvestres. Com a morte dos pais, "de raio", os três órfãos são separados: Nico, o mais velho, vai trabalhar numa fazen

Júlio Verne acerta mais uma

A lula gigante (sem ironias, por favor) ataca novamente. Depois de ser vista atacando o Nautilus,  eis que ela é filmada, a cerca de mil quilômetros ao sul de Tóquio. Agora só falta mesmo a viagem ao centro da Terra...

"No", de Pablo Larraín

O filme No, do chileno Pablo Larraín (Chile, 1976), em cartaz (ao menos aqui, em Belo Horizonte) neste início de ano, merece ser visto com atenção. Com a participação do mexicano Gael Garcia Bernal no papel de René Saavedra, um publicitário de respeito, o filme mostra a campanha do plebiscito que determinou, em 1988, o fim do regime de Pinochet. A princípio reticente, acaba entrando na campanha, enquanto seu chefe adere ao Sim. O filme é baseado em romance de António Skármeta. Larraín consegue escapar com facilidade de um previsível panfleto partidário. Ele próprio já disse em entrevistas ter crescido entre os prováveis optantes do Sim (pró-regime), uma vez ser filho de senador "da direita", só tendo consciência do que acontecia por volta dos seus 15 ou 16 anos. No foi selecionado para representar o Chile no Oscar de 2013, uma ideia fixa de nós brasileiros. Fez muito sucesso entre a crítica americana e, parece, em Cannes, o que pode ser um indicador favorável

Expurgo, de Sofi Oksanen

Expurgo Sofi Oksanen Record, 2012 Tradução: Julián Fuks 346 p. Aliide ajeitou a cortina, aproveitando para abri-la. O jardim chuvoso ressentia seu tom cinzento, os troncos das bétulas agitavam-se encharcados, as folhas se deixavam alisar pela chuva, a grama alta oscilava, gotas caíam da ponta das folhas. E havia algo por baixo. Um vulto. Aliide se retraiu, abrigando-se atrás da cortina. Voltou a olhar para fora, desfez o laço da cortina para que não pudesse ser vista do jardim e prendeu a respiração. Seu olhar desviou das manchas de mosca no vidro e focou no gramado em frente à bétula que fora fendida por um raio. p. 11. A finlandesa Sofi Oksanen (1977) lembra, fisicamente, Amy Winehouse. Este seu romace recebeu diversos prêmios literários na Europa; já havia sido editado na França, nos EUA, e no ano passado, no Brasil. Um belo romance para abrir o ano. O tema central é a ocupação soviética da Estônia ao longo do último século. Inicialmente, Aliide, uma velha e solitá