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Le Requiem de Franz, de Pierre Charras



Chegar a um livro que não foi traduzido para o português não é fácil; se esse livro nem em inglês foi editado, pior ainda. Por uma recomendação de um livreiro português que trabalha na livraria Tschann, em Paris, há alguns anos, cheguei a este livro de Pierre Charras (1945), autor com vasta produção e bastante conhecido na França. É também tradutor do inglês e ator de cinema.

Neste Requiem de Franz, publicado pela Mercure de France e obviamente sem a menor previsão de chegada por aqui, o próprio Schubert nos conta sua breve vida. Após um início que lembra os de Machado de Assis - eis o meu fim. Ninguém jamais pronunciará o nome de Schubert novamente - o compositor fala de sua infância, de sua mãe, de sua obsessão pela música e sua devoção a Mozart e Beethoven (de cujo funeral participou emocionada e ativamente), da sífilis. 


Um romance curto, de 110 páginas, num francês que se mostra agradável a quem ainda está estudando o idioma, e dividido em capítulos curtos - 14, como os movimentos do famoso Requiem - que apresente uma biografia sem pretensões ensaísticas do grande compositor - um monólogo com o leitor - o que em alguns momentos se mostra meio cansativo. Vale mais como uma introdução à vida de Schubert e por algumas passagens - como a do diretor da escola que lhe comunica a morte da mãe e os momentos que se seguiram a este desastre e, principalmente, nos momentos em que Schubert se vê como um compositor menor, de canções populares, e não um "verdadeiro" músico como seus ídolos.

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