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Mostrando postagens de janeiro, 2014

Os russos atacam novamente

Isto sim é sofisticação intelectual. Esse negócio de se matar em estádio de futebol é coisa de atrasado.  Inconformado com um colega que afirmou preferir prosa, um amante de poesia esfaqueou o desafeto até a morte. A vítima, de 67 anos, afirmava que a única literatura era aquela em prosa. O assassino, de 53, não se conteve... No ano passado, dois sujeitos começaram a brigar numa fila para comprar cerveja, por discordarem  a respeito de Kant.

O fim dos clássicos?

Há dois dias conversava com um amigo sobre a morte dos clássicos, ao menos no Brasil.  Este artigo, que pode ser lido em inglês, aqui,  mostra que o problema não se resume a estas terras. Pois o departamento de inglês da UCLA decidiu, em 2011, que não há necessidade de ler Chaucer, Shakespeare ou Milton, para horror de muitos. O autor do artigo é ex-editor da Enciclopédia Britânica e está claramente neste grupo. O texto segue afirmando que, agora, bastam textos didáticos e antologias, apresentando trechos de um ou outro autor, com longos ensaios acadêmicos e "pós-modernismos impenetráveis". Troque suas edições baratas de Hamlet por um "calhamaço contendo pouca literatura e um monte de besteira". Essa discussão rende. Por aqui, há muitos anos bastava ler resumos de livros nas escolas - e se você ousasse ler a obra indicada era visto como estranho até mesmo por alguns professores. Agora dá para substituir o resumão pelo filme ou a wikipedia. Um professor de f

Ninguém escreve como eu

António Lobo Antunes, na edição brasileira do El País: P: Em Portugal é muito conhecido também por suas crônicas em revistas e jornais... R: Isso só faço porque pagam bem. As pessoas gostam porque são como piscinas para crianças. É impossível afogar-se. Os livros, por sua vez, são feitos para que se afoguem. Comecei a fazer essas crônicas com meu amigo José Cardoso Pires, de quem sinto muita saudade. A entrevista, que pode ser lida  aqui , não ajuda a melhorar sua imagem diante dos saramaguistas mais fanáticos que sempre o odiaram. Mas, justiça seja feita, ele não dá a mínima para essa questão.

Uma cadeia humana

Para transferir os livros da Biblioteca para o novo prédio.  Aqui.

O Bom Soldado Svejk (III)

O segundo livro - No Front -, ao contrário do que o titulo pode indicar, não se passa propriamente na frente de batalha. O bom soldado bem que tentou, mas ficou preso na teia burocrática do império. Ele seguiu de Praga para um local de treinamento. Mas o trem acaba parando (o freio de emergência é acionado) e, enquanto sua participação é investigada, fica retido na estação.  O trem segue com seu regimento e, a partir daí, ele tentará chegar à companhia. Com os personagens loucos para escapar da guerra - só os austríacos estavam realmente empenhados - é claro que poucos realmente acreditam no objetivo de Svejk.  Diante das suas habituais respostas curtas e desconcertantes, é inicialmente tomado por um espião russo altamente qualificado, querendo chegar ao front para passar imediatamente suas preciosas informações ao inimigo.  Não há descrições sobre as batalhas; elas aparecem de forma indireta. Lá pelo meio deste segundo livro, o autor passa a ser mais explícito. Os soldado

Conto da semana, de Florencia Abbate

Sem querer polemizar... os argentinos estão com uma safra incrível em literatura e cinema. O conto da semana vai novamente para o sul, e encontra Florencia Abbate (1976). Seu Uma pequena luz  integra a antologia Os outros - narrativa argentina contemporânea , organizada por Luis Gusmán e editada pela Iluminuras. Hoje acordei tão cansada que não consegui me levantar da cama. Para tentar esquecer o pesadelo, me agarrei à leitura do livro que havia deixado no criado-mudo. Fiquei pior, Novalis... Não entendo os poetas que falam da doença como se ela fosse fascinante. estar doente é algo vulgar e bastante repulsivo. O que mais me horroriza é que a vida se torne tão minimalista, que vá se reduzindo a minúcias como não esquecer de tomar os remédios na hora certa, ou estar contente só por ter conseguido caminhar da minha casa até o hospital sem sentir dor ou fadiga. A narradora descobriu estar com leucemia. Agora está em casa. Horacio não pode visitá-la - a região em que mora está i

Juan Gelman (1930-2014) - o askenazi que escrevia poemas em ladino

Juan Gelman faleceu dia 14 na Cidade do México. Um dos grandes nomes da poesia argentina, foi militante comunista e mais tarde montonero - o que lhe rendeu pendenga judicial no início da redemocratização em 1983 e um exílio no México. Escritores de diferentes matizes ideológicos como Gabriel Garcia Márquez e Vargas Llosa se manifestaram a seu favor. Seu filho foi assassinado pela ditadura; seu neto somente foi identificado muitos anos depois. Gelman escreveu também em ladino (!) O poema abaixo faz parte do volume bilíngue Dibaxu , publicado em 1994 na Argentina e em 2010 no Brasil. Foi retirado do site  www.juangelman.net . X. não tens porta/ chave/ não tens fechadura/ voas de dia/ voas de noite/ o amado cria o que se amará/ como tu/ chave/ tremendo na porta do tempo/  - no tenis puarta/ yave/ no tenis sirradura/ volas di nochi/ volas didia/ lu amadu cría lu qui si amará/ como vos/ yave/ timblandu nila puarta dil tiempu

O Bom Soldado Svejk (II)

O pendant humorístico, genialmente humorístico, é o soldado Svejk, de Hasek: o soldado checo, anti-herói, forçado a servir no exército austríaco contra os irmãos eslavos, ilude os oficiais, fingindo-se de idiota; e como idiota pode dizer, com a cara mais ingênua, verdades subversivas, enquanto pagando a franqueza pela humilhação sem vergonha. É a epopéia picaresca da guerra e uma as grandes obras satíricas da literatura universal, muito lida mas ainda não bastante apreciada. Otto Maria Carpeaux, História da Literatura Ocidental, volume 4, pág. 2531 .

Conto da semana, de David Rose

O primeiro conto da semana do ano é do inglês David Rose (1949), de quem já li Flora . Recebi gentilmente do autor suas Posthumous Stories (Histórias Póstumas), lançadas no ano passado. Inédito por aqui.  Considerado um tesouro escondido do conto inglês pelo The Guardian . Uma coletânea de contos, que aos poucos aparecerão por aqui. Vou tentar traduzir alguns.  Shuffle  aborda uma questão que, se não é exatamente inédita, está longe de ser resolvida: o leitor que sabe que não tem tempo para ler tudo o que deseja. Armado de seu e-reader, o narrador - mais de 50 anos - está angustiado - vamos considerar que eu viva até 83, a idade em que meu pai morreu. Ajustando as variáveis - aumentando o tempo de leitura na aposentadoria mas com uma gradual desaceleração na velocidade, considerando ainda que eu não tenha glaucoma, catarata, Parkinson, etc - e numa média de 3 livros por semana, eu teria um total de 4992. Parece muito.  Mas considerando que a lista da Penguin Classics está por

O Bom Soldado Svejk (I)

A sra. Müller e Joséf Svejk a caminho do quartel (Josef Lada) Um dos meus objetivos para 2014. Antecipo-me, pelo Kindle, à edição brasileira que deve sair este ano, pela Alfaguara. Vale a pena tê-lo "em analógico". Mais ainda se acompanhada das ilustrações de Josef Lada, amigo de Hasek. Jaroslav Hasek (1883-1923) não conseguiu concluir sua obra-prima (como Kafka, aliás, com quem é sempre comparado - um Kafka com humor e escrevendo em tcheco). Sua ideia era fazê-lo em seis livros. Morreu ditando o quarto. Azar o nosso. Trata-se de uma divertidíssima história sobre a Primeira Guerra do ponto de vista de um império decadente e que sabidamente seria derrotado, a partir de Joséf Svejk, na vida civil um negociante de cães roubados - vira-latas vendidos como de pedigree, graças às falsificações de suas "árvores genealógicas" - e que foi dispensado do exército por ser oficialmente declarado idiota. Alguns episódios que foram tratados pelo autor em seus contos (im