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Mostrando postagens de junho, 2011

Um Violinista no Telhado

  No feriado, assistimos com as crianças à mais nova montagem da dupla Charles Möeller e Cláudio Botelho, em cartaz desde maio no Rio: o  musical, de Joseph Stein e baseado em contos de Scholem Aleichem ( Tevye e suas Filhas ). Nos últimos anos,  uma série de produções da Broadway passou a ser montadas por aqui, sempre pela dupla, demonstrando não apenas a existência de público como também de atores e demais profissionais de alta qualidade. Anatevka é um shtetl fictício - os shtetls eram vilarejos predominantemente judeus espalhados pela Europa Oriental, principalmente na Rússia, Bielo-Russia (não consigo escrever Belarus), Polônia e Ucrânia, até o início da Segunda Guerra, quando foram dizimados. Lá vive Tevye, o leiteiro, interpretado por José Mayer, sua família e vizinhos. Tenta desesperadamente manter as tradições judaicas das ameaças cada vez mais próximas do mundo que o cerca. Personagens como a casamenteira, o rabino, o mendigo, o açougueiro, não poderiam estar de fora. 

Ainda Fernando Pessoa - A Tabacaria, por João Villaret

José Paulo Cavalcanti Filho conheceu Pessoa através da voz de Villaret.  Ei-lo...

Le Horla, de Guy de Maupassant

Guy de Maupassant foi um dos primeiros autores que consegui ler em francês, numa edição da Librio (nos idos dos 10FF...). Um grande contista, presença obrigatória em qualquer antologia da literatura fantástica. Acho que foi o Eurochannel que passou, há algum tempo atrás, a série Chez Maupassant – diversas adaptações dos seus contos. O conto da semana é dele: Le Horla, que tem uma história curiosa: sua primeira versão, de 1886, apresenta a forma tradicional de narrativa, na terceira pessoa. No ano seguinte, apareceu a segunda versão (a que é hoje lida por todos), já na forma de um diário íntimo, através do qual acompanhamos a progressiva loucura do seu autor, entre maio e setembro. O que significa “Horla”? Há várias interpretações, de acordo com Daniel Mortier, professor de literatura de Rouen – um anagrama do sobrenome do médico de Maupassant, Lahor; uma deformação da palavra normanda horsain, que significa “estrangeiro”; um anagrama de choléra. O autor do diário vive só,

Fernando Pessoa, uma quase autobiografia. José Paulo Cavalcanti Filho

“ Conheci Fernando Pessoa em 1966, pela voz de João Villaret. Foi o começo de uma paixão que até hoje me encanta e oprime. Tenho mesmo a sensação de que gostava dele ainda mais naquele tempo. Talvez porque todo começo de paixão seja assim mesmo...depois arrefece; ou então, como o rio de sua aldeia, ele apenas pertencesse a menos gente. Pouco a pouco, fomos nos aproximando. Leio frases suas, hoje, como se tivesse estado ao seu lado quando as escreveu; e chego a pressentir as reações que teria perante algum fato do quotidiano. Não se deu apenas comigo. Jorge Luis Borges, 50 anos depois de sua morte, pediu: Deixa-me ser teu amigo ; e Luiz Ruffato lembra que era outono e azul quando apresentei-me a Fernando Pessoa. No íntimo, é como se continuasse vivo. Penso que será sempre assim em livros como este, que se propõem contar a história de uma vida. Ao passar dos anos, fui compreendendo melhor esse homem inquieto, o corpo frágil, a angústia da alma, a dimensão grandiosa da obra. Em Lisboa,

Meia Noite em Paris, de Woody Allen

Em Paris, à meia-noite, Gil é convidado para grandes encontros com os Fitzgerald, Picasso, Gerturde Stein, Hemingway. Tudo bem, se Gil não vivesse no século 21... No novo filme de Woody Allen, que encontrou em Owen Wilson um ator capaz de falar como ele próprio, Gil é um roteirista de sucesso em Hollywood que, na realidade, gostaria de ser um escritor consagrado. Sua noiva Inez, com os seus pais, forma um grupo de americanos “republicanos” (sempre tem alguém assim nos filmes de Woody Allen). Gil e Inez encontram outro casal, Paul e Carol – Michael Sheen, ótimo como Paul, um esnobe que se acha intelectual e superior a todos os outros (quem não conhece um mala como ele, que “entende” de tudo, de vinhos, arte, literatura, história, mesmo falando besteiras monumentais?).  Paul despreza, inclusive, a guia do museu Rodin (Carla Bruni). Outro que merece destaque é Adrien Brody (talvez o melhor, além de Wilson), como Dalí – que vê rinocerontes em todo lugar. Durante a estada em Paris, e

Conto da semana - Antonio Tabucchi

Antonio Tabucchi é autor do romance Afirma Pereira (Rocco, 1995, traduzido por Roberta Barni) e transformado em filme de Roberto Faenza, com Marcello Mastroiani, Joaquim de Almeida e Daniel Auteuil. O italiano é um dos maiores especialistas em Fernando Pessoa – Tabucchi é, inclusive, muito parecido, fisicamente, com Pessoa. Afirma Pereira se passa em Lisboa, sob a ditadura de Salazar, em 1938. O conto da semana é uma homenagem de Tabucchi a Pessoa – está no livro Sonhos de Sonhos (Rocco, 1996, traduzido por Rachel Gutierrez): Sonho de Fernando Pessoa: poeta e fingidor. Em 7 de março de 1914, o poeta sonhou que estava acordado. Estava se dirigindo à estação de trem de Lisboa para ir a Santarém. Chegando a essa cidade, pegou um coche. Pergunta ao cocheiro se ele sabia de uma casa isolada caiada de branco, ao que o condutor respondeu que sim, que é a casa do Sr. Caeiro. Onde estavam? Estamos na África do Sul, respondeu o cocheiro, e o estou levando à casa

Lope, de Andrucha Waddington

Lope, de Andrucha Waddington. Brasil/Espanha, 2010 Apesar de ter sido lançado há algum tempo, consegui ver em um cinema - de shopping! - nesta terça. Um belo filme, cuidadosamente elaborado e com fotografia que merece uma tela grande.  O longa mostra o início da carreira artística de Felix Lope de Vega (1562-1635), interpretado pelo argentino Alberto Ammann. Lope, depois de servir à Armada Espanhola (na verdade, trata-se da grande derrota que a então "Armada Invencível" sofreu para a Inglaterra em 1588), retorna a Madri. Reencontra a mãe (Sonia Braga) e procura ganhar a vida com suas peças. Tem interesse em Isabel (Leonor Watling) mas acaba se envolvendo com a filha do "produtor" de peças a quem passa a trabalhar, Jeronimo Velasquez. Para os brasileiros, além do diretor e de Sonia Braga, destaque para Selton Mello, no papel do Marquês de Navas, interessado em Isabel mas absolutamente desprovido de talento poético e que, por isso, contrata Lope para lhe criar poem

Fernando Pessoa - 13 de junho

Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia, Não há nada mais simples Tem só duas datas - a da minha nascença e a da minha morte. Entre uma e outra coisa todos os dias são meus Poemas inconjuntos, Alberto Caeiro Fernando Pessoa nasceu em 13 de junho de 1888. E é de hoje, 13 de junho de 2011, a data do prefácio, escrito pelo próprio José Paulo Cavalcanti Filho, do seu livro Fernando Pessoa: uma quase autobiografia.

Conto da semana - Mia Couto

O conto da semana é do escritor moçambicano Mia Couto, de quem ainda não li nenhum romance. Não por falta de opção no mercado brasileiro. Aqui, um curtíssimo conto – O Assalto - que dá o título ao livro da editora portuguesa Padrões Culturais, de 2009.  A Chris recebeu o texto de uma colega. São as vantagens da Internet. Aqui, temos um assalto diferente. Uns desses dias fui assaltado. Foi num virar de esquina, num desses becos onde o escuro se aferrolha com chave preta. Nem decifrei o vulto: só vi, em rebrilho fugaz, a arma em sua mão. Já eu pensava fora do pensamento: eis-me! A pistola foi-me justaposta no peito, a mostrar-me que a morte é um cão que obedece antes mesmo de se lhe ter assobiado.  Tudo se embrulhava em apuros e eu fazia contas à vida. O medo é uma faca que corta com o cabo e não com a lâmina. A gente empunha a faca e, quanto maior a força de pulso, mais nos cortamos.  —  Para trás! Obedeci à ordem, tropeçando até me estancar de encontro à parede. O gelo en

Dublinesca, de Enrique Vila-Matas

Dublinesca. Enrique Vila-Matas. Cosac Naify, 2011. 320 p. “ Pertence à estirpe cada vez mais rara dos editores cultos, literários. E, comovido, assiste todos os dias ao espetáculo de como o ramo nobre de seu ofício – os editores que ainda leem e que sempre foram atraídos pela literatura – vai se extinguindo sigilosamente, no começo deste século. Teve problemas há dois anos, mas soube fechar a tempo a editora que, no fim das contas, mesmo tendo obtido um notável prestígio, caminhava com assombrosa obstinação para a falência. Em mais de trinta anos de trajetória independente, aconteceu de tudo, sucesso, mas também grandes fracassos. A falta de rumo da etapa final ele atribui a sua resistência a publicar livros com as histórias góticas da moda e outras bobagens, e dessa forma esquecer parte da verdade: que nunca se distinguiu por sua boa gestão econômica e que, além disso, talvez pudesse ter sido prejudicado por seu fanatismo desmesurado pela literatura”. Assim começa Dublines

Caderno de Economia - com Italo Calvino

O conto da semana é de Italo Calvino, de quem já li O Visconde Partido ao Meio e O Cavaleiro Inexistente. Este A Ovelha Negra integra o livro Um General na Biblioteca (Companhia das Letras, 2001, tradução de Rosa Freire d’Aguiar). Uma teoria sobre distribuição de renda... Uma curtíssima e curiosa história de um país em que todos eram ladrões – À noite, cada habitante saía, com a gazua e a lanterna, e ia arrombar a casa do vizinho. Voltava de madrugada, carregado, e encontrava a sua casa roubada. E assim todos viviam em paz e sem prejuízo, pois um roubava do outro, e este, um terceiro, e assim por diante, até que se chegava ao último, que roubava o primeiro. E assim o país prosperava, e tudo seguia normalmente até que apareceu um sujeito honesto, e a crise se instaurou: foi preciso fazê-lo compreender que, se quisesse viver sem fazer nada, não era essa uma boa razão para não deixar os outros fazerem. Cada noite que ele passava em casa era uma família que não comia no dia seguin

O Concerto, de Radu Mihaileanu

Aproveitando as férias, consegui assistir à única sessão diária (14:30h) do filme O Concerto, de Radu Mihaileanu (Trem da Vida, que já comentei aqui).   Novamente, um grande filme. Andrei Filipov (Aleksey Guskov) foi maestro da orquestra do Bolshoi, mas há 30 anos fora demitido, em pleno concerto, por haver contratado músicos judeus. Agora, já na Rússia capitalista, é faxineiro do mesmo teatro quando, acidentalmente, descobre um fax, através do qual o Teatro Chatelet, em Paris, convida o Bolshoi para uma apresentação. Resolve, então, “se apropriar” do convite, e monta uma orquestra com os músicos judeus (e ciganos – essa combinação já estava presente em Trem da Vida ) e vai a Paris, para o espetáculo. Mas qual seria a razão deste empenho todo? Sabemos que insiste na presença da virtuose francesa do violino, Anne-Marie Jacquet (Mélanie Laurent, a Shosana de Bastardos Inglórios ). Como no primeiro filme, aqui temos um humor fino e ao mesmo tempo melancólico. Os novos-ricos mafios