Antonio Tabucchi é autor do romance Afirma Pereira (Rocco, 1995, traduzido por Roberta Barni) e transformado em filme de Roberto Faenza, com Marcello Mastroiani, Joaquim de Almeida e Daniel Auteuil.
O italiano é um dos maiores especialistas em Fernando Pessoa – Tabucchi é, inclusive, muito parecido, fisicamente, com Pessoa. Afirma Pereira se passa em Lisboa, sob a ditadura de Salazar, em 1938.
O conto da semana é uma homenagem de Tabucchi a Pessoa – está no livro Sonhos de Sonhos (Rocco, 1996, traduzido por Rachel Gutierrez): Sonho de Fernando Pessoa: poeta e fingidor.
Em 7 de março de 1914, o poeta sonhou que estava acordado. Estava se dirigindo à estação de trem de Lisboa para ir a Santarém. Chegando a essa cidade, pegou um coche. Pergunta ao cocheiro se ele sabia de uma casa isolada caiada de branco, ao que o condutor respondeu que sim, que é a casa do Sr. Caeiro.
Onde estavam? Estamos na África do Sul, respondeu o cocheiro, e o estou levando à casa do Sr. Caeiro.
(...) Ah! então estava na África do Sul, era exatamente o que queria. Cruzou os tornozelos nus, saindo das calças à marinheiro. Compreendeu que era um menino, e isso muito o alegrou. Era ótimo ser um menino que viajava pela África do Sul. Retirou do bolso uma carteira de cigarros e acendeu um com prazer.
Chegando à tal casa branca, viu Caeiro, que estava sentado em uma das poltronas e tinha a cabeça inclinada para trás. Era o diretor Nicholas, seu professor da High School.
Não sabia que Caeiro fosse o senhor, disse Fernando Pessoa, e inclinou-se ligeiramente (...) O senhor é o meu mestre, disse.
Caeiro suspirou e depois sorriu. É uma longa história, disse, mas é inútil que eu a explique a você tintim por tintim, você é inteligente e vai compreender, mesmo que eu salte algumas passagens. Saiba apenas isto: eu sou você.
Explique-se melhor, disse Pessoa.
Sou a parte mais profunda de você, disse Caeiro, sua parte obscura. Por isso sou seu mestre. (...) Você deve seguir a minha voz, disse Caeiro, vai me ouvir na vigília e no sono, vou perturbá-lo às vezes, em outras nem quererá me ouvir. Mas terá de me escutar. Deverá ter a coragem de escutar esta voz, se quer ser um grande poeta.
Ao que Fernando Pessoa responde prontamente estar de acordo. Parte da casa branca, retorna ao coche, que o esperava todo esse tempo. Agora, já é adulto.
Onde devo levá-lo? perguntou o cocheiro. Leve-me ao fim do sonho, disse Pessoa, hoje é o dia triunfal da minha vida.
E acorda no dia 8 de março. Como diz Tabucchi: O “dia triunfal” de sua existência foi 8 de março de 1914, quando os poetas que o habitavam começaram a escrever por sua mão.
Vale a pena destacar a ultima atuação de Mastroiani,magnifica,no filme
ResponderExcluirQue interessante você citar Tabucchi, Fábio. Li o livro em janeiro e fiquei encantada com o autor. Li a tradução em inglês, que por sinal é muito boa. Aliás, não sabia que o livro foi traduzido para o português. Na realidade, fiquei emocionada com o seu post, que descobri pelas palavras chaves ao lado!
ResponderExcluirAbraço grande,
Vera Helena
Fiquei emocionada com esta posatagem, que descobri pelas palavraschaves ao lado. Li Sostiene Pereira em janeiro e fiquei simplesmente encantada com o livro, em busca de uma tradução em português e de outros livros do autor. Muito bom saber de outros que o conhecem. Quero muito assistir ao filme.
ResponderExcluirAbraços,
Vera Helena