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Mostrando postagens de abril, 2013

Revista Samizdat, 36

Na edição de abril da Revista Samizdat , O tradutor. 

Conto da semana, de Hervé le Tellier (ou Jaime Montestrela)

Do blog do escritor Eduardo Berti,  dois microcontos do "escritor português" Jaime Montestrela, a partir da tradução feita pelo francês Hervé le Tellier (que, na verdade, não sabe uma palavra de português: Jaime é uma de suas criações). Em 13 de janeiro de 1923, ao amanhecer, perguntaram a Jack Bluther, condenado à forca pela morte de treze pessoas (incluindo sua senhoria), qual era seu último pedido. Bluther pediu aprender mandarim. Enforcaram-no vinte anos mais tarde, quando já falava fluentemente o idioma, ainda que pudesse ter melhorado a pronúncia. Na ilha de Sanapagrata (Indonésia) os habitantes sempre dizem a verdade. Na ilha vizinha de Pagranaasta, todos mentem o tempo todo. E a de Natagrapasa era habitada por pessoas que às vezes mentiam, às vezes diziam a verdade. Os missionários portugueses logo se encheram de seus enigmas e mataram todos no fio de suas espadas. Hervé le Tellier, para quem nunca ouviu falar (como eu) é membro do OuLiPo - que mais parece si

O Estudante de Coimbra, de Guilherme Centazzi

O Estudante de Coimbra  Guilherme Centazzi Editorial Planeta 318 p. Nasci no Algarve, donde se vê que devo ser grulha, e falador: isto ponho eu já aqui para que os leitores saibam com quem se metem, e depois se não queixem das digressões e moralidades a que sou sujeito, e de que por mais que faça nunca posso mondar de todo o que escrevo: sou pois algarvio, isto é, filho lá das terras que estão mais ao sul de Portugal, formando certa província com a alcunha de reino, que pela natureza do seu clima poderia produzir muitos gêneros de ambas as Índias, se bem governados tivéssemos tido a ventura de ver prosperar a nossa indústria, e se do ouro do Brasil nos não tivesse metido nos ossos a mania de ser ricos sem trabalhar, assemelhando-nos aos campos sem cultura aonde só medram plantas estéreis. (p. 27) Um prazer para poucos. É (deve ser) descobrir uma obra há muito esquecida. Foi o que Pedro Almeida Vieira fez com este romance de 1840, de Guilherme Centazzi (1808-1875). Ele,

Conto da semana, de Muhsin Al-Ramli

O conto da semana está publicado,  em inglês, no site da words without borders . Muhsin Al-Ramli (1967) nasceu no Iraque e vive em Madri, desde 1993. Sua tese de doutorado foi sobre a influência da cultura islâmica em Don Quixote. Seu irmão, o poeta Hassan Mutlak, foi condenado à morte pelo regime de Saddam em 1990. O conto, "A TV de um olho", foi publicado na edição de abril, que se dedica aos 10 anos da guerra e da invasão americana. A narrativa me fez lembrar alguns filmes do leste europeu... Aqui, o relato da chegada da televisão numa aldeia do interior do país. O pai do narrador odeia o Sr. Presidente (lógico, Saddam); o regime faz de tudo para que o líder máximo seja conhecido pela população: quando em visita a uma vila curda, as pessoas saíram correndo, sem identificá-lo. Eu sou o Presidente, você não me reconhece? Para cada família, uma TV; para isso, decretou que a eletricidade deveria chegar a toda e qualquer vila ou povoado. Os aparelhos chegavam com uma

To be or not to be

A Revista Cult publica este mês entrevista com Alberto Manguel, que pode ser lida  aqui .  Nossa identidade tem origem na própria língua. No meu caso, o inglês e o alemão foram as primeiras línguas até os 8 anos. As ideias se formam para mim primeiro em inglês, hoje mais que o alemão, pois deixei de usá-lo há tempo, embora seja ainda fluente. Quando falo e, sobretudo, quando escrevo em espanhol há como um pequeno esforço de tradução.  É curioso até que ponto a língua nos define, define nossa vida intelectual e forma de pensar, inclusive as ideias que temos. Certas ideias que um escritor de língua portuguesa formula, o faz por estar pensando em português. Essa mesma ideia não seria formulada por um escritor de língua inglesa ou chinesa. Há um poema de um argentino pouco conhecido, o José Pedroni: ele escreveu que o momento em que se dá conta de que está enamorado é "quando o você passa para tu". Um lusófono não poderia ter essa ideia - e esse é um exemplo banal. Uma amost

O livro mais caro do mundo

De acordo com a  ABC NEWS,  a previsão é que o livro, de 1640, seja arrematado por até 30 milhões de dólares, em novembro. A Sotheby's fará o leilão do primeiro livro impresso no que hoje são os Estados Unidos. 

Conto da semana, de Jorge Luis Borges

Há muito tempo não falamos dele. Neste "A Casa de Astérion", Borges traz a história do minotauro, na versão desconhecida do próprio. Do primeiro volume das Obras Completas, da Editora Globo. * Sei que me acusam de soberba, e talvez de misantropia, e talvez de loucura. Tais acusações (que castigarei no devido tempo) são irrisórias. É verdade que não saio de casa, mas também é verdade que as suas portas (cujo número é infinito) estão abertas dia e noite aos homens e também aos animais. Que entre quem quiser. Não encontrará aqui pompas femininas nem o bizarro aparato dos palácios, mas sim a quietude e a solidão. Por isso mesmo, encontrará uma casa como não há outra na face da terra. (Mentem os que declaram existir uma parecida no Egito.) Até meus detratores admitem que não há um só móvel na casa. Outra afirmação ridícula é que eu, Astérion, seja um prisioneiro. Repetirei que não há uma porta fechada, acrescentarei que não existe uma fechadura? Mesmo porque, nu

Iceberg, de Paul Kavanagh

Este romance curto, de cento e poucas páginas, do inglês Paul Kavanagh (1971) é definitivamente estranho. Cheguei a ele por indicação de  David Rose , e li na versão Kindle. Não foi uma leitura fácil; várias palavras que até para um leitor nativo chamam a atenção. Um desafio para quem eventualmente for traduzi-lo (aliás, Kavanagh é considerado complicado até mesmo para os native speakers ... Este Iceberg remete a Hemingway - uma das referências de Kavanagh - e sua teoria do iceberg, ou da omissão. Use apenas 10% do que você sabe do seu personagem na história. Os outros 90%, reserve para você mesmo. Há, aqui, muito desta sutileza.  Don (um artista, pintor, nada bem sucedido ou talentoso) e Phoebe - professora de inglês na biblioteca da cidade e autora de um romance sobre caleidoscópio, igualmente sem sucesso - formam um casal duro numa cidade do norte da Inglaterra, num cenário de completa falência não apenas do país como da sociedade. Em meio à violência, ela recebe a informa

Fatos, Ficção e História

Este foi o título do seminário e o que discutiram, num encontro, Orhan Pamuk e Umberto Eco.  Eles falaram sobre como se tornaram escritores e ainda ficaram gozando as manias do outro.  Pamuk, como se sabe, queria ser um pintor quando criança. " No entanto, mais tarde, resolvi que eu queria viver uma vida solitária. Nunca quis uma vida na qual eu recebesse ou desse ordens. Queria viver a vida solitária de alguém que tivesse uma grande imaginação". E foi assim que Pamuk percebeu que não poderia ser um pintor. "Então eu me perguntei: por que não um romancista?" E Eco: "Algumas pessoas assaltam bancos, outras são pedófilas, algumas escalam o Mont Blanc e eu escrevo romances. Não se pode discutir as escolhas pessoais".

O 100º Conto da Semana

- O senhor está vendo - disse Carnehan - o Imperador em seu traje, como viveu... o Rei do Cafiristão com a sua coroa na cabeça. Coitado do velho Daniel, que foi um dia um monarca! O conto desta semana é o 100º do blog. Logo, tem que ser um conto especial, e escolhi O homem que queria ser rei, de Rudyard Kipling (1865-1936). O conto está em diversas antologias, inclusive no Mar de Histórias. A Editora Landmark o incluiu numa edição bilíngue com outros contos do autor. Pouco depois de ter lido pela primeira vez, assisti ao filme, de John Huston e com Sean Connery e Michael Cane, de 1975, e que é bastante fiel ao texto.  Os dois são Daniel Dravot e Peachey Carnehan, dois oficiais do exército imperial britânico da pior espécie e que acabam no Kafiristão, no Norte da Índia. Dravot é considerado um rei, um imortal neste país, que acaba se unindo em torno de sua figura. Conquistam povos, mas Dravot - e, consequentemente, Carnehan - acaba desmascarado quando resolve se casar.

Nas Montanhas da Holanda, de Cees Nooteboom

Cees Nooteboom é o pseudônimo de Cornelis Johannes Jacobus Maria (1933), nome que lembra os contemporâneos de Vermeer. Bastante badalado na Europa, integra o grupo dos eternos favoritos - e até agora, despeitadamente preteridos - ao Nobel de Literatura. Nunca li nada dele até este momento, quando concluo a edição em espanhol pelo Kindle daquele que é considerado o seu melhor trabalho: Nas Montanhas da Holanda. Alfonso Tiburón de Mendoza é um inspetor de estradas em Zaragoza que viveu, na juventude, na Holanda - país que apenas lembra um outro, real, chamado Holanda. Nos meses de agosto, passa os dias nas salas de aula de uma escola fechada (férias escolares na Europa) e se põe a escrever. Não é lá um grande escritor; ninguém lê o que escreve; não vende quase nada... nem sua esposa e seu filho o levam a sério. Nas Montanhas da Holanda, que eu saiba ainda não publicado no Brasil, conta a história de um sujeito (Alfonso) contando uma história. Neste aspecto, trata-se de um ro

Dia 4 na Revista Samizdat

Hoje é dia 4 de abril. Na Revista,  o microconto Coerência.