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To be or not to be

A Revista Cult publica este mês entrevista com Alberto Manguel, que pode ser lida aqui

Nossa identidade tem origem na própria língua. No meu caso, o inglês e o alemão foram as primeiras línguas até os 8 anos. As ideias se formam para mim primeiro em inglês, hoje mais que o alemão, pois deixei de usá-lo há tempo, embora seja ainda fluente. Quando falo e, sobretudo, quando escrevo em espanhol há como um pequeno esforço de tradução.  É curioso até que ponto a língua nos define, define nossa vida intelectual e forma de pensar, inclusive as ideias que temos. Certas ideias que um escritor de língua portuguesa formula, o faz por estar pensando em português. Essa mesma ideia não seria formulada por um escritor de língua inglesa ou chinesa. Há um poema de um argentino pouco conhecido, o José Pedroni: ele escreveu que o momento em que se dá conta de que está enamorado é "quando o você passa para tu". Um lusófono não poderia ter essa ideia - e esse é um exemplo banal. Uma amostra mais forte é o célebre "to be or not to be". Isso não ocorreria a um poeta de língua castelhana, pois teria de tomar uma decisão. O "to be" de Shakespeare é ser e estar ao mesmo tempo (risos). Em espanhol ou português, teremos de escolher, ser ou não ser, estar ou não estar. 

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