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Mostrando postagens de janeiro, 2015

Ida (2013), de Pawel Pawlikowski

Candidato ao Oscar de filme estrangeiro, esse preto e branco que remete aos anos 60 é, sem dúvida, uma grande película - um grande filme curto, de menos de 80 minutos). Estranho, sim, e bastante. Anna (Agata Trzebuchowska) é uma jovem noviça às vésperas de se tornar freira. A madre superiora insiste em fazê-la visitar sua família - ou o que dela restou: a tia Wanda (Agata Kulesza). Esta, desgostosa com tudo e todos, uma procuradora comunista, revela que Anna é, na verdade, Ida, filha de judeus mortos pelos nazistas. A partir daí, ambas partem para tentar descobrir as exatas circunstâncias da morte dos pais e de sua sobrevivência. Logo chegam ao algoz, que descreve exatamente o modus operandi dos assassinatos. É claro que Ida fica chocada, mas é a comunista, cínica e ateia tia Wanda que não resiste às revelações. Vemos de forma clara aquilo que já lemos em diversos lugares: os judeus foram expulsos de suas casas; ao final da guerra, os sobreviventes (poucos) que tentara

Teoria de Tudo (2014), de James Marsh

Esta é não apenas uma história sobre o Stephen Hawkins, mas dele (Eddie Redmayne) e sua primeira mulher, Jane (Felicity Jones). Sim, ela é tão "personagem principal" quanto ele, indicado para o Oscar de melhor ator. Seu desempenho, principalmente a partir do avanço da doença, é realmente notável. As expressões com que consegue mostrar a degeneração física são impressionantes. Tal como outras adaptações de vidas ao cinema, esta também parece ter sido bastante camarada com o biografado. É certo que sua separação, já no final do filme, não foi tão delicada como parece - e, sim, ficamos todos com  repugnância de sua atitude em trocar Jane, que abdicou de sua vida para acompanhá-lo (quando se casaram, ele já estava condenado), por Elaine (enfermeira "predadora", contratada para ajudar o casal, e interpretado por Maxine Peake). Se Eddie faz jus à indicação ao Oscar, o desempenho de Felicity é igualmente notável. Sua dedicação ao marido, e mesmo sua luta para

Instituto de Estatísticas da Biblioteca

Sim. Como vivemos até hoje sem esses dados?

Invencível (2014)

Louis Zamperini tinha tudo para se tornar um marginal; vai às Olimpíadas de Berlim (1936) e não ganha nada - ainda que com um desempenho sensacional na última volta dos 5 mil metros tenha se tornado famoso; cai de avião no Pacífico e é capturado, depois de mais de 40 dias à deriva, pelos japoneses. E, o mais incrível, tudo isso de fato ocorreu. Invencível (Unbroken), de Angelina Jolie (e, entre os roteiristas, os irmãos Coen!), começa muito bem com cenas cuidadosas de batalhas aéreas (e como funcionavam os caças daquela época) e vamos conhecendo a vida de Zamperini  - interpretado por Jack O'Connell -  aos poucos - de garoto problemático a atleta que, em Berlim, sonhava com sua garantida participação nos Jogos de 1940 (que seriam, ironicamente, em Tóquio). A fotografia, um dos pontos fortes, deu-lhe uma das três indicações ao Oscar de 2015. O filme se baseou no livro de mesmo nome escrito por Laura Hillenbrand. Quem o leu - não é o meu caso - reconhece que, se al

O Rio segundo C.L.

O Instituto Moreira Salles criou um mapa da cidade na obra de Clarice Lispector.

Uma mensagem de Primo Levi neste 27 de janeiro

Há 70 anos o campo de Auschwitz era libertado pelos soviéticos. É isto um homem? (Primo Levi) Vocês que vivem seguros em suas cálidas casas, vocês que, voltando à noite, encontram comida quente e rostos amigos,                         pensem bem se isto é um homem                                         que trabalha no meio do barro,                        que não conhece paz,                         que luta por um pedaço de pão,                        que morre por um sim ou por um não.                        P ensem bem se isto é uma mulher,                         sem cabelos e sem nome,                         sem mais força para lembrar,                        vazios os olhos, frio o ventre,                        como um sapo no inverno. Pensem que isto aconteceu: eu lhes mando estas palavras. Gravam-na em seus corações, estando em casa, andando na rua, ao deitar, ao levantar; repitam-nas a seus filhos.                         Ou, s

Mário de Andrade em Paraty

A edição da FLIP deste ano homenageia Mário de Andrade, de quem, para ser honesto, apenas li, na escola, Macunaíma. O curador do festival, Paulo Werneck, destaca que, para além da obra literária, Mário de Andrade se destacou como o criador (com Rodrigo Melo Franco de Andrade) do IPHAN. E completa: a preservação de Paraty deve muito a Mário. A promessa é a reedição de seus livros. O material jornalístico produzido pelo Estadão é protegido por lei. Para compartilhar este conteúdo, utilize o link: http://cultura.estadao.com.br/noticias/literatura,mario-de-andrade-sera-o-homenageado-da-flip,1620925

Monteiro Lobato: Não arrasem o Morro do Castelo!

Da série Rio 450 Anacronismo vivo, D. João VI paredes-meias com Epitácio, século XVI  entreaberto à curiosidade do século 20, sobrevivência fossilizada de eras  para sempre perdidas, é um ancião de barbas brancas, de cócoras à  beira-mar, rememorando o muito que já lhe passou diante dos olhos.  Mas triste. Percebe que virou negócio, que o verdadeiro tesouro oculto  em suas entranhas não é a imagem de ouro maciço de Santo Inácio e  sim o panamá do arrasamento. E desconfia que seu fim está próximo.  Os homens de hoje são negocistas sem alma. Querem dinheiro. Para  obtê-lo venderão tudo, venderiam até a alma se a tivessem. Como pode  ele, pois, resistir à maré, se suas credenciais - velhice, beleza, pitoresco,  historicidade - não são valores de cotação na bolsa? No final, um dos únicos - ou o único - a se manifestar contra o desmonte, iniciado em 1920. Do morro, não sobrou nada. Obra do prefeito Carlos Sampaio, que queria se livrar de um monte de cortiços que "impedi

Em defesa da sátira

Por Alberto Manguel, em espanhol, no  Babelia de hoje.

A primeira história do mundo, de Alberto Mussa

A primeira história do mundo Alberto Mussa Record, 240p. Na época do crime, o Rio de Janeiro acabava de ser transferido do istmo entre o Cara de Cão e o Pão de Açúcar para o cume do morro que seria o do Castelo. E a região da Carioca, então desabitada, se interpunha exatamente entre esses polos, isolando a cidade velha. Alberto Mussa aproveita-se de um fato - o "primeiro homicídio" da cidade do Rio de Janeiro, ocorrido em 1567 (dois anos, portanto, após a fundação). O serralheiro Francisco da Costa é encontrado morto, com sete flechas nas costas. A vítima era casada com a mameluca Jerônima Rodrigues. A partir daí, Mussa mergulha na história da cidade - então com 400 habitantes, quase todos homens, em meio a milhares de índios (sem falar dos franceses). Três ruas. Uma selva fechada. A rigor, uma cidade, digamos, bastante improvável de engrenar.Uma cidade com apenas três ruas; que em 1567 vivia a iminência da guerra. Francisco da Costa foi assassinado em frente

Fala, Memória, de Vladimir Nabokov

Fala, Memória Vladimir Nabokov Objetiva/Alfaguara tradução de José Rubens Siqueira Uma grande autobiografia essa de Nabokov, que vai de sua infância na Rússia até a chegada aos Estados Unidos, em 1940. Desde o prefácio, quando mostra que pretendia dar um título diferente à obra (no caso, Fala, Mnemosine, mas seu sábio editor o advertiu para evitar títulos impronunciáveis por velhinhas), até o inédito apêndice. Uma infância cosmopolita em São Petersburgo, em uma família que falava tranquilamente quatro idiomas, passava os invernos na Rússia e em Biarritz. Tutores, jardineiros - uma multidão de funcionários gravitava em torno da estrela Nabokov. Até que, um belo dia, esse idílio é varrido do mapa, em 1917. Há uma descrição cuidadosa (melhor: orgulhosa) de sua árvore genealógica; ficamos sabendo do papel desempenhado por seu pai como um importante político social-democrata que acabou (como quase todos) tragado pelos comunistas... o relacionamento com os tutores e demai

O Charlie Hebdo de alguns

A cola vem do novo site O Antagonista .