Pular para o conteúdo principal

Invencível (2014)

Invencível


Louis Zamperini tinha tudo para se tornar um marginal; vai às Olimpíadas de Berlim (1936) e não ganha nada - ainda que com um desempenho sensacional na última volta dos 5 mil metros tenha se tornado famoso; cai de avião no Pacífico e é capturado, depois de mais de 40 dias à deriva, pelos japoneses. E, o mais incrível, tudo isso de fato ocorreu.



Invencível (Unbroken), de Angelina Jolie (e, entre os roteiristas, os irmãos Coen!), começa muito bem com cenas cuidadosas de batalhas aéreas (e como funcionavam os caças daquela época) e vamos conhecendo a vida de Zamperini  - interpretado por Jack O'Connell -  aos poucos - de garoto problemático a atleta que, em Berlim, sonhava com sua garantida participação nos Jogos de 1940 (que seriam, ironicamente, em Tóquio). A fotografia, um dos pontos fortes, deu-lhe uma das três indicações ao Oscar de 2015.

O filme se baseou no livro de mesmo nome escrito por Laura Hillenbrand. Quem o leu - não é o meu caso - reconhece que, se algumas cenas foram exageradas, não o foram mais do que o próprio texto...

Se a abertura é realmente muito bem feita, os críticos de Angelina não perdoaram uma das últimas, onde Louis carrega uma tora de madeira como um Cristo.  Aliás, Louis havia prometido, em alto-mar, se dedicar a Deus caso fossem salvos. E eis que surgem japoneses. Isso sim é prova de fé.

Capturado, passa o diabo nas mãos do sádico e esquisitão cabo Watanabe (o cantor japonês Myiavi) em campos de trabalhos forçados. Um momento merece a atenção do espectador: a guerra de propaganda. Os japoneses identificam o atleta olímpico e lhe oferecem uma oportunidade de se comunicar, pela rádio, com sua família. O programa, transmitido nos EUA, surpreendeu os americanos, já que Louis era dado como morto. Evidentemente, isso tinha um preço - outras manifestações radiofônicas, criticando a América. Ele se recusa - e volta ao campo - mas o filme mostra militares americanos venais que frequentavam restaurantes em Tóquio. 

A obra se encerra com o Zamperini real; aos oitenta, carregou a tocha olímpica; em 2014, morreu, aos 97 anos. Watanabe nunca quis reencontrá-lo. Procurado pelos americanos, conseguiu se esconder de todos, ressurgindo após o término da ocupação. Nunca foi preso ou processado.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O conto da semana, de Italo Calvino

O conto da semana é novamente de Calvino – Quem se contenta – e integra Um General na Biblioteca : Havia um país em que tudo era proibido. Ora, como a única coisa não-proibida era o jogo de bilharda, os súditos se reuniam em certos campos que ficavam atrás da aldeia e ali, jogando bilharda, passavam os dias. E como as proibições tinham vindo paulatinamente, sempre por motivos justificados, não havia ninguém que pudesse reclamar ou que não soubesse se adaptar. Passaram-se os anos. Um dia, os condestáveis viram que não havia mais razão para que tudo fosse proibido e enviaram mensageiros para avisar os súditos que podiam fazer o que quisessem. Os mensageiros foram àqueles lugares onde os súditos costumavam se reunir. - Saibam – anunciaram – que nada mais é proibido. Eles continuaram a jogar bilharda. - Entenderam? – os mensageiros insistiram – Vocês estão livres para fazerem o que quiserem. - Muito bem – responderam os súditos – Nós jogamos bilharda. Os mensagei...

Conto da semana, de Jorge Luis Borges - Episódio do Inimigo

Voltamos a Borges. Este curto Episódio do Inimigo está no 2º volume das Obras Completas editadas pela Globo. É um bom método para se livrar de inimigos: Tantos anos fugindo e esperando e agora o inimigo estava na minha casa. Da janela o vi subir penosamente pelo áspero caminho do cerro. Ajudava-se com um bastão, com o torpe bastão em suas velhas mãos não podia ser uma arma, e sim um báculo. Custou-me perceber o que esperava: a batida fraca na porta. Fitei-o, não sem nostalgia, meus manuscritos, o rascunho interrompido e o tratado de Artemidoro sobre os gregos. Outro dia perdido, pensei. Tive de forcejar com a chave. Temi que o homem desmoronasse, mas deu alguns passos incertos, soltou o bastão, que não voltei a ver, e caiu em minha cama, rendido. Minha ansiedade o imaginara muitas vezes, mas só então notei que se parecia de modo quase fraternal, com o último retrato de Lincoln. Deviam ser quatro da tarde. Inclinei-me sobre ele para que me ouvisse. - Pensamos que os anos pa...

A Magna Carta, o Rei João e Robin Hood

É claro que o rei João não se ajoelhou aos pés de Robin Hood, mas é interessante lembrar hoje, dia 15 de junho, quando a Magna Carta completa 800 anos, a ligação entre a ficção e a História, na criação do que pode ser considerado o mais importante documento da democracia. João Sem-Terra. John Lackland. Nasceu em Oxford, 1166, o quarto filho de Henrique II, o que lhe custou toda possibilidade de receber uma herança - daí seu apelido. Quando o irmão Ricardo (Coração de Leão) assume o trono, em 1189, recebe mais um golpe e, obviamente, irá fazer de tudo para tomar o poder. Em 1199, Ricardo é morto e João, finalmente, torna-se rei. Para custear as guerras, Ricardo aumentou drasticamente os impostos a um nível inédito na Inglaterra. Para piorar, ao retornar de uma Cruzada, foi feito prisioneiro dos alemães. Há quem diga que o resgate cobrado (e pago) seria equivalente a 2 bilhões de libras. Na época de João, o cofre estava vazio, mas as demandas, explodindo como n...