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Monteiro Lobato: Não arrasem o Morro do Castelo!

Da série Rio 450


Anacronismo vivo, D. João VI paredes-meias com Epitácio, século XVI entreaberto à curiosidade do século 20, sobrevivência fossilizada de eras para sempre perdidas, é um ancião de barbas brancas, de cócoras à beira-mar, rememorando o muito que já lhe passou diante dos olhos. Mas triste. Percebe que virou negócio, que o verdadeiro tesouro oculto em suas entranhas não é a imagem de ouro maciço de Santo Inácio e sim o panamá do arrasamento. E desconfia que seu fim está próximo. Os homens de hoje são negocistas sem alma. Querem dinheiro. Para obtê-lo venderão tudo, venderiam até a alma se a tivessem. Como pode ele, pois, resistir à maré, se suas credenciais - velhice, beleza, pitoresco, historicidade - não são valores de cotação na bolsa?



No final, um dos únicos - ou o único - a se manifestar contra o desmonte, iniciado em 1920. Do morro, não sobrou nada.

Obra do prefeito Carlos Sampaio, que queria se livrar de um monte de cortiços que "impediam" o progresso e a civilização, atrapalhando a ventilação da cidade. A ideia era a comemoração do centenário da independência em 1922. Os jornais O Paiz e Correio da Manhã defendiam a demolição; o finado JB era abertamente contrário, indagando o destino dos moradores do morro.







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