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Mostrando postagens de agosto, 2012

Fui vê-la, pai - Conto de Pierre Mejlak

Não costumo colocar o mesmo autor duas semanas consecutivas, mas Pierre Mejlak  gentilmente cedeu à Biblioteca este seu conto - aqui, traduzido por ninguém menos que valter hugo mãe.  Inclinei-me, colocando as mãos por sobre os olhos, como toldando o sol, e murmurei-lhe, “Fui vê-la, pai. Fui vê-la.” *** A última vez que o visitei, ele não parecia tão bem. A minha irmã mais nova tinha acabado de sair e, como de hábito, ela insitira muito sobre o ele estar a piorar. Achei que devia manter as coisas agradáveis, por isso perguntei-lhe sobre as mulheres que o marcaram. Foi como acabamos a falar sobre a mulher espanhola. Ele costumava gostar de falar sobre as mulheres que conheceu. Parecia que assim esquecia a dor, os seus olhos brilhavam e subitamente focavam. Porque desde que adoeceu e foi levado para o hospital, as mulheres que amou durante toda a vida tornaram-se para ele um álbum de fotografias que nunca se cansou de percorrer. E sob cada fotografia estavam mais cinquen

A Queda, de Diogo Mainardi

A Queda Diogo Mainardi Editora Record 2012 150 páginas 119 Agora estamos na praia da Enseada, em Bertioga. Em 7 de fevereiro de 1972, entrando no mar, na praia da Enseada, Josef Mengele teve um derrame cerebral e morreu. Vim até aqui, com meus filhos Tito e Nico, seguindo o rastro de Josef Mengele. Quero entrar no mar em que ele morreu. Quero tripudiar sobre seu cadáver. Quero comemorar o valor da vida de um filho inválido. Sou o Simon Wiesenthal da paralisia cerebral. Josef Mengele está morto. Tito está vivo. Quem acompanhava suas colunas na Veja nota o mesmo estilo - frases curtas, com muitas repetições - e uma guinada radical de assunto - não há mais que uma menção à política brasileira. Uma mistura de ensaio e memória; uma declaração de amor ao filho com paralisia cerebral após uma barbeiragem da médica que fez o parto, mais preocupada com o fim do turno de trabalho. Duas coisas chamam a atenção: em primeiro lugar, o tom cáustico, co

Conto da semana, de Pierre Mejlak

Uma história muito curta, que pode ser lida em inglês  aqui,   esta do escritor Pierre Mejlak (1982). Não à toa, integra a edição de dezembro de 2011 do site WWB, dedicado ao fantástico. Aqui, uma menina constroi o mundo - literalmente. A menina sonhadora cria não apenas um universo como toda criança - e me lembro de também ter criado países, cidades; e me lembro que tenho feito isso ultimamente com JF. Cada um inventa uma ilha com mais montanhas altíssimas, florestas fechadas etc. A menina do conto - At Livia's Bar - constroi diversas cidades, cidades perfeitas, com uma escola circundada por um jardim de macieiras, uma universidade, um hospital, campo de futebol, igreja, lojas, aeroporto... Mas dessa vez, nos conta Mejlak, ela começa sua cidade com um grande círculo. Começou com um pequeno bar, onde muitos se reúnem à noite; os estudantes sempre pedem um drink especial a Livia, uma morena de Porto Alegre - isso mesmo; do Brasil. Um conto de menos de duas páginas e que

A Separação, de Asghar Fahardi

Não deu para ver no cinema, mas peguei na locadora. Levou o Oscar de filme estrangeiro deste ano e o Urso de Berlim de 2011. O casal Nader e Simin até se dá bem, mas ela quer a separação, para sair do país (ela responde ao oficial, claramente, que "do jeito que as coisas estão" prefere que a filha seja criada fora). Já Nader insiste em ficar no Irã - seu pai, que sofre de Alzheimer. Ela não consegue a separação, e vai para a casa dos pais. A filha, Termeh, fica com o pai, que continua a sua batalha: encontrar alguém para cuidar do pai. Essa pessoa finalmente aparece: Razieh. Humilde e religiosa. E grávida. Ela inclusive liga para uma central de assuntos religiosos para perguntar se pode trocar as calças de um homem que acabou de se urinar... O marido dela, no entanto, não sabe que ela está trabalhando. A partir daí, a situação se agrava. Nader expulsa Razieh de casa, pensando que ela lhe furtou dinheiro; ela perde o bebê; o marido não sabia que ela estava trabal

A Felicidade é Fácil, de Edney Silvestre

Edney Silvestre A Felicidade é Fácil Editora Record, 2012 224 páginas Amar deve ter sido inventado para vender alguma coisa. Não havia linguagem codificada mas Amar já era essencial para a sobrevivência comercial do Neandertal mais próximo. Quando as pinturas rupestres de Altamira ou do Vale da Capivara forem decifradas, os arqueólogos confirmarão que anunciavam Você Vai Amar Nossos Tacapes Com Nova Fórmula, ou Amar é Servir Carne de Bisão Sem Aditivos. Trinta mil anos depois pintamos em outdoors e telas de televisão. Você vai amar a nova margarina Elion. Este é o segundo romance do jornalista Edney Silvestre - o primeiro, Se eu fechar os olhos agora, foi um dos últimos que li antes de iniciar este blog. Neste novo livro, Edney Silvestre explora um momento histórico que, definitivamente, merece maior atenção de nossa ficção: o início do governo Collor. A Editora Record disponibilizou um capítulo para degustação, que pode ser lido aqui.  E, aqui, o booktrailer:

Conto da semana, de Rubem Fonseca

As coisas que um corcunda é capaz de fazer para que uma mulher se apaixone por ele. O conto da semana é brasileiro, e pode ser lido  aqui.  O primeiro romance de Rubem Fonseca que li foi Agosto , antes de virar minissérie. Este O Corcunda e a Vênus de Botticelli mostra o que um sujeito como o corcunda faz para realizar suas conquistas com as mulheres. O bilhe­te: Suspeito que leu pouca poe­sia. Você lê os ­livros na praça e vai pulan­do pági­nas, devem ser con­tos, nin­guém lê poe­sia assim. Preguiçosos gos­tam de ler con­tos, aca­bam um conto na pági­na vinte e pulam para aque­le que está na pági­na qua­ren­ta, no fim leem ape­nas uma parte do livro. Você pre­ci­sa ler os poe­tas, nem que seja à manei­ra daque­le escri­tor malu­co para quem os ­livros de poe­sia mere­cem ser lidos ape­nas uma vez e ­depois des­truí­dos para que os poe­tas mor­tos deem lugar aos vivos e não os dei­xem petri­fi­ca­dos. Posso fazer você enten­der de poe­sia, mas terá que ler os ­livros que

Série O Bairro, de Gonçalo Tavares

A série O Bairro já vem sendo publicada no Brasil, se não me engano, pela Casa da Palavra. Mas na feira do livro em Lisboa não resisti à caixa com cinco volumes da Editorial Caminho - e no retorno, me dediquei aos senhores Calvino, Brecht, Eliot, Swendenborg e Walser. A edição é ilustrada por Rachel Caiano. O bairro criado por Gonçalo Tavares está em constante expansão; parece viver um boom imobiliário, tal a profusão de novos apartamentos e moradores que para lá se mudaram ou marcaram a mudança...  Interessante que o mapa do bairro mostra uma casa isolada de tudo e de todos, justamente a do senhor Walser que, coitado, tinha grandes expectativas em sua nova morada, longe da aglomeração. Robert Walser procurou ocultar-se por toda a vida numa floresta - passou quase que seus últimos trinta anos num manicômio. Mas o senhor Walser não terá muito sucesso, já que a cada momento entra em sua casa, tão esmeradamente planejada, alguém para consertar algo. Quando fechava a

Conto da Semana, de Noelle Revaz

A suíça Noelle Revaz (1968) é a autora do conto da semana. e está na BEF 2012 (e a Biblioteca já entrou na contagem regressiva para o lançamento, em outubro, da edição de 2013 da antologia organizada por Aleksandar Hemon). Em As Crianças, que pode ser lido, em inglês,  aqui,  somos levados a um orfanato. A história é narrada por uma das crianças, que vivem na casa azul. Inicialmente, parece que o casal Morceau está avisando suas crianças de um pequeno e trivial atraso. Há uma greve de trabalhadores e ninguém irá vê-las. Pode ir ao jardim, mas não atravessem o portão; não comam nos quartos, se não tivermos chegado até a hora da ceia, comam o cereal.  Estou abandonando vocês, e isso me faz sentir culpada. Liguem-me a cada meia hora. E partem. Aos poucos, a real situação das crianças vai se agravando. O casal não retorna. No dia seguinte, um telefonema. É a Madame Morceau: desculpem, estamos retidos longe do orfanato. Desculpem-me... os maiores ajudam os menores; as meninas

O Terrorista, de Wislawa Szymborska

Novamente, do  Poesia Ilimitada : O TERRORISTA… OLHA A bomba vai explodir no bar às treze e vinte. São neste momento treze e dezasseis. Alguns conseguem ainda entrar, alguns sair. O terrorista passou já para o outro lado da rua. A esta distância ficará livre de perigo e, quanto a vista, é como no cinema: Uma mulher de casaco amarelo... entra. Um homem de óculos escuros... sai. Rapazes de jeans... conversam. Treze horas, dezassete minutos e quatro segundos. Aquele baixinho tem sorte e senta-se na vespa, mais um tipo alto que entra. Treze horas, dezassete minutos e quarenta segundos. Passa uma moça de fita verde nos cabelos. Só que o autocarro oculta-a. Treze e dezoito. A rapariga desapareceu. Se foi bastante estúpida para entrar ou não, isso se saberá pelas notícias. Treze e dezanove. Parece que ninguém entra. Há porém um careca gordo que sai. Mas olha, parece que procura algo nos bolsos, faltam treze segundos para as treze e vinte, e ele volta a entra

Sobre Puchkin

Para quem não sabe nada de Púchkin, é difícil dizer alguma coisa sobre ele. Púchkin é um grande poeta. Napoleão é menor do que Púchkin. Bismarck, aos pés de Púchkin, também não é nada. Os Alexandres I e II, e também o III, são simplesmente umas bolhas em comparação com Púchkin. Aliás, todas as pessoas, em comparação com Púchkin, são umas bolhas, só que, em comparação com Gógol, o próprio Púchkin é uma bolha. Por isso, em vez de escrever sobre Púchkin vou antes escrever sobre Gogol. Aliás, Gogol é tão grande que é impossível escrever alguma coisa sobre ele, por isso vou escrever afinal sobre Púchkin. Porém, depois de Gogol, é um pouco aborrecido escrever sobre Púchkin. Ora, sobre Gogol é impossível escrever. Por isso acho que não vou escrever sobre ninguém. Daniil Harms, em A Velha e Outras Histórias, tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra, Assírio & Alvim, Lisboa.

D. Nuno, o Santo Cavaleiro, de Vanda Furtado Marques

No Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, Jorge Felipe, que adora histórias de cavaleiros, se empolgou com um livro que contava a vida de D. Nuno, que havia conhecido dias antes em Batalha. D. Nuno foi o comandante que levou os portugueses à vitória na batalha de Aljubarrota. Eu tinha prometido que, se ele lesse e gostasse do livro, poderia dizer o que achava aqui no blog. Nuno era um menino que sonhava ser cavaleiro, e o seu pai chamava milhares de vezes para voltar para casa. Nuno foi crescendo com espírito de cavaleiro como protetor dos mais fracos. As meninas adoravam ele! Quando fez 16 anos foi prometido a uma jovem chamada Leonor Alvim mas ele queria era ser cavaleiro. Falou para o pai que não queria se casar.   O novo rei chamou Nuno para a guerra contra os castelhanos. Ele virou o grande amigo do rei D. João I. Diziam que ele ganhava as guerras porque amava o seu país. Quando a guerra acabou deu tudo o que tinha aos seus criados, parentes e amigos e entrou no Convento

O Livro

No site do  Rascunho , um poema de Jorge Tufic (Sena Madureira, AC, 1930), que começa assim: 1 Não se mude o teu formato ó livro de quatro quinas pois é neste mundo exato que estão as coisas divinas

Gore Vidal (1925-2012)

Li dois livros de Gore Vidal; ambos com sua peculiar - e muito divertida - visão da história norte-americana. Em Burr, sobre Aaron Burr, o terceiro vice-presidente do país. Ele matou, num duelo, Alexander Hamilton. Interessante quando ele descreve a construção de Washington: quase dá para substitui-la por Brasília: um lugar que afugentava as pessoas, que consumiu milhões e nunca ficava pronta.  E Washington (o George) tinha corpo de mulher... Já em A Era Dourada, sua polêmica visão da entrada dos EUA na Segunda Guerra. Sua imagem de Roosevelt não é das mais simpáticas,tendo provocado os japoneses para que conseguisse apoio fácil para entrar no conflito. Paulo Francis foi um dos seus maiores admiradores por estas bandas. 

Lisboa

Terminando a série sobre Portugal... ficamos no hotel Lisboa Plaza, na Travessa do Salitre, próximo à bela e sofisticada Avenida da Liberdade. Caminhando poucos minutos, chega-se à Praça dos Restauradores e ao Rossio. Daí, pega-se a rua do Carmo, bem à direita, e duzentos metros depois, chegamos à famosa Rua Garrett. Duas livrarias: a famosa Bertrand do Chiado, na Garrett, e a bem menor mas igualmente interessante Ferin, na Rua do Carmo, logo abaixo dos Armazéns do Chiado. É claro que não se poderia deixar de visitar o café A Brasileira, com sua estátua do Fernando Pessoa e seus pastéis de nata (só em Belém se pode usar a denominação "pastel de Belém"). Dela saem algumas ruas que vão em direção ao Tejo: Na mesma Garrett, um pequeno refúgio, com alguns bons restaurantes. Os táxis são muito baratos. De Belém para o hotel não gastamos oito euros, o que, sob o sol do verão a 40 graus, é um alento. Demos um outro pulo para lá, para comer um pastel de Belém

Conto da semana, de Gonçalo Tavares

Na feira do livro na estação do metrô do Oriente, uma caixa com livros da série O Bairro, de Gonçalo Tavares. Um preço inacreditável.  Eis uma história que é contada pelo senhor Brecht, sobre O desempregado com filhos: Disseram-lhe: só te oferecemos emprego se te cortarmos a mão. Ele estava desempregado há muito tempo; tinha filhos, aceitou. Mais tarde foi despedido e de novo procurou emprego. Disseram-lhe: só te oferecemos emprego se te cortarmos a mão que te resta. Ele estava desempregado há muito tempo; tinha filhos, aceitou. Mais tarde foi despedido e de novo procurou emprego. Disseram-lhe: só te oferecemos emprego se te cortarmos a cabeça. Ele estava desempregado há muito tempo; tinha filhos, aceitou.

Lisboa - Parque das Nações

A Lisboa contemporânea está no Parque das Nações, região da cidade que sediou a Expo 98. O moderno complexo, próximo à estação de metrô Oriente, tem um shopping centre (Vasco da Gama), a torre Vasco da Gama - o edifício mais alto da cidade - e o Oceanário como pontos principais.  No Parque das Nações, vemos a mão de Santiago Calatrava. É dele o projeto da estação do Oriente. É torcer para que o projeto de revitalização do Porto do Rio saia realmente do papel,   para as Olimpíadas de 2016, com sua participação no tal Museu do Amanhã.  Um teleférico nos conduz por cerca de 1000 m, saindo do Oceanário e chegando à torre. Vê-se o rio Tejo e a ponte Vasco da Gama, além de todo o conjunto urbano. Abaixo, aproximamo-nos da torre. No Oceanário, somos recebidos pelo simpático Vasco: O Oceanário de Lisboa já é uma referência em termos mundiais. Tubarões, pinguins, peixes tropicais. Muitos restaurantes no complexo, mas preferimos almoçar no próprio Oceanário. Nada d