Guy de Maupassant foi um dos primeiros autores que consegui ler em francês, numa edição da Librio (nos idos dos 10FF...). Um grande contista, presença obrigatória em qualquer antologia da literatura fantástica. Acho que foi o Eurochannel que passou, há algum tempo atrás, a série Chez Maupassant – diversas adaptações dos seus contos.
O conto da semana é dele: Le Horla, que tem uma história curiosa: sua primeira versão, de 1886, apresenta a forma tradicional de narrativa, na terceira pessoa. No ano seguinte, apareceu a segunda versão (a que é hoje lida por todos), já na forma de um diário íntimo, através do qual acompanhamos a progressiva loucura do seu autor, entre maio e setembro.
O que significa “Horla”? Há várias interpretações, de acordo com Daniel Mortier, professor de literatura de Rouen – um anagrama do sobrenome do médico de Maupassant, Lahor; uma deformação da palavra normanda horsain, que significa “estrangeiro”; um anagrama de choléra.
O autor do diário vive só, com seus empregados, numa casa em Rouen quando, subitamente, começa a se sentir mal; crê estar doente, mas ignora a razão de todos esses problemas. Progressivamente, o quadro se agrava. Procura mudar de ares mas, quando retorna, os sintomas reaparecem, e acredita em uma presença invisível.
Duas curiosidades: no 14 de julho, consta do diário: Fêtes de la République. Je me suis promené par les rues. Les pétards et les drapeaux m’amusaient comme un enfant. C’est pourtant fort bête d’être joyeux, à date fixe, par décret du gouvernement…
Em 19 de agosto, lê na Revue du Monde Scientifique a respeito de uma epidemia de loucura em São Paulo, comparável às doenças contagiosas que atingiram a Europa na Idade Média.
Mas o importante é mesmo a presença desta entidade, o Horla. No dia 14 de agosto, já não tem mais dúvidas de estar sendo visitado por algo: Quelqu’un possède mon âme et la gouverne! Quelqu’un ordonne tous mes actes, tous mes mouvements, toutes mes pensées. Cinco dias depois, Il est venu, le… le… comment se nomme-t-il… le… il semble qu’il me crie son nom, et je ne l’entends pas… le… oui… il le crie… J’écoute… Je ne peux pas… répète… le Horla… J’ai entendu… le Horla… c’est lui… le Horla… il est venu…
A leitura do diário nos mostra a progressiva loucura de seu autor, que decide matar a entidade, colocando fogo em sua casa. Por um breve período, pensa ter resolvido seu problema, mas percebe que “ele” ainda está lá: Non... non... sans aucun doute, sans aucun doute... il n’est pas mort... Alors... alors... il va donc falloir que je me tue, moi...
No You Tube, em audiolivro falado em espanhol com acompanhamento do texto,idem.
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Guy de Maupassant é ótimo, este em especial. Estou te seguindo. Adorei seu blog!
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