Pular para o conteúdo principal

O Bom Soldado Svejk (III)

O segundo livro - No Front -, ao contrário do que o titulo pode indicar, não se passa propriamente na frente de batalha. O bom soldado bem que tentou, mas ficou preso na teia burocrática do império. Ele seguiu de Praga para um local de treinamento. Mas o trem acaba parando (o freio de emergência é acionado) e, enquanto sua participação é investigada, fica retido na estação. 


O trem segue com seu regimento e, a partir daí, ele tentará chegar à companhia. Com os personagens loucos para escapar da guerra - só os austríacos estavam realmente empenhados - é claro que poucos realmente acreditam no objetivo de Svejk. Diante das suas habituais respostas curtas e desconcertantes, é inicialmente tomado por um espião russo altamente qualificado, querendo chegar ao front para passar imediatamente suas preciosas informações ao inimigo. 

Não há descrições sobre as batalhas; elas aparecem de forma indireta. Lá pelo meio deste segundo livro, o autor passa a ser mais explícito. Os soldados se amontoam no trem, para serem novamente feridos, mutilados e mortos, e ganhar uma cruz de madeira sobre suas covas, diz-nos Hasek. Não se pode esquecer que ele próprio esteve no campo de batalha, chegando a ser feito prisioneiro pelos russos.

E fica mais evidente a questão das nacionalidades - especificamente, entre austríacos, tchecos (eslavos, afinal, combatendo a Rússia) e húngaros. O amigo de Svejk, Vodicka, passa mais tempo tentando destruir as outras etnias do seu império do que propriamente os inimigos.

O segundo livro não é tão bom quanto o primeiro, o que é muito mais um elogio a este do que uma crítica àquele. Mas já dá para notar algumas pequenas mudanças no comportamento do bom soldado, que é agora explicitamente mais cínico. O episódio da carta de Lukacs à amante - ele deveria entregá-la num determinado horário, mas acaba se "atrasando" e lendo-a, na frente do marido. E acaba criando uma imensa confusão entre tchecos e húngaros...






Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O conto da semana, de Italo Calvino

O conto da semana é novamente de Calvino – Quem se contenta – e integra Um General na Biblioteca : Havia um país em que tudo era proibido. Ora, como a única coisa não-proibida era o jogo de bilharda, os súditos se reuniam em certos campos que ficavam atrás da aldeia e ali, jogando bilharda, passavam os dias. E como as proibições tinham vindo paulatinamente, sempre por motivos justificados, não havia ninguém que pudesse reclamar ou que não soubesse se adaptar. Passaram-se os anos. Um dia, os condestáveis viram que não havia mais razão para que tudo fosse proibido e enviaram mensageiros para avisar os súditos que podiam fazer o que quisessem. Os mensageiros foram àqueles lugares onde os súditos costumavam se reunir. - Saibam – anunciaram – que nada mais é proibido. Eles continuaram a jogar bilharda. - Entenderam? – os mensageiros insistiram – Vocês estão livres para fazerem o que quiserem. - Muito bem – responderam os súditos – Nós jogamos bilharda. Os mensagei

Conto da semana, de Jorge Luis Borges - Episódio do Inimigo

Voltamos a Borges. Este curto Episódio do Inimigo está no 2º volume das Obras Completas editadas pela Globo. É um bom método para se livrar de inimigos: Tantos anos fugindo e esperando e agora o inimigo estava na minha casa. Da janela o vi subir penosamente pelo áspero caminho do cerro. Ajudava-se com um bastão, com o torpe bastão em suas velhas mãos não podia ser uma arma, e sim um báculo. Custou-me perceber o que esperava: a batida fraca na porta. Fitei-o, não sem nostalgia, meus manuscritos, o rascunho interrompido e o tratado de Artemidoro sobre os gregos. Outro dia perdido, pensei. Tive de forcejar com a chave. Temi que o homem desmoronasse, mas deu alguns passos incertos, soltou o bastão, que não voltei a ver, e caiu em minha cama, rendido. Minha ansiedade o imaginara muitas vezes, mas só então notei que se parecia de modo quase fraternal, com o último retrato de Lincoln. Deviam ser quatro da tarde. Inclinei-me sobre ele para que me ouvisse. - Pensamos que os anos pa

A Magna Carta, o Rei João e Robin Hood

É claro que o rei João não se ajoelhou aos pés de Robin Hood, mas é interessante lembrar hoje, dia 15 de junho, quando a Magna Carta completa 800 anos, a ligação entre a ficção e a História, na criação do que pode ser considerado o mais importante documento da democracia. João Sem-Terra. John Lackland. Nasceu em Oxford, 1166, o quarto filho de Henrique II, o que lhe custou toda possibilidade de receber uma herança - daí seu apelido. Quando o irmão Ricardo (Coração de Leão) assume o trono, em 1189, recebe mais um golpe e, obviamente, irá fazer de tudo para tomar o poder. Em 1199, Ricardo é morto e João, finalmente, torna-se rei. Para custear as guerras, Ricardo aumentou drasticamente os impostos a um nível inédito na Inglaterra. Para piorar, ao retornar de uma Cruzada, foi feito prisioneiro dos alemães. Há quem diga que o resgate cobrado (e pago) seria equivalente a 2 bilhões de libras. Na época de João, o cofre estava vazio, mas as demandas, explodindo como n