Sem querer polemizar... os argentinos estão com uma safra incrível em literatura e cinema. O conto da semana vai novamente para o sul, e encontra Florencia Abbate (1976). Seu Uma pequena luz integra a antologia Os outros - narrativa argentina contemporânea, organizada por Luis Gusmán e editada pela Iluminuras.
Hoje acordei tão cansada que não consegui me levantar da cama. Para tentar esquecer o pesadelo, me agarrei à leitura do livro que havia deixado no criado-mudo. Fiquei pior, Novalis... Não entendo os poetas que falam da doença como se ela fosse fascinante. estar doente é algo vulgar e bastante repulsivo. O que mais me horroriza é que a vida se torne tão minimalista, que vá se reduzindo a minúcias como não esquecer de tomar os remédios na hora certa, ou estar contente só por ter conseguido caminhar da minha casa até o hospital sem sentir dor ou fadiga.
A narradora descobriu estar com leucemia. Agora está em casa. Horacio não pode visitá-la - a região em que mora está inundada (sim, não é só no Brasil). Abre a janela e se depara com alguém, pendurado de cabeça para baixo, que lhe pergunta se pode entrar. É Agustín, estudante de cinema, e que quisera filmar uma tomada da perspectiva de alguém que se joga do bungy jumping.
Agustín é completamente alheio a esta situação. É curiosa a analogia que a autora faz - acho que, até agora, todas as pessoas que tiveram a possibilidade de me fazer mal, já fizeram, seja consciente ou inconscientemente. Acredito que agiram assim não por nada pessoal, e sim por alguma coisa semelhante a esse instinto que leva as galinhas - quando percebem que uma delas está ferida - a se atirarem em cima da outra a bicadas. Agustín, claro, parece-lhe ser uma exceção...
Um conto curto, que consegue não ser nem sentimentalista/piegas nem artificialmente seco.
Comentários
Postar um comentário