O que é a língua? O que ela esconde? O que nos rouba? Ao longo das semanas que permaneci no Marrocos, não tentei aprender nem árabe nem os dialetos bérberes. Não quis perder nada do poder exótico dos seus gritos. Queria ser atingido por seus gritos, tal como eles eram, sem enfraquecê-los devido a um saber artificial e insuficiente. Não havia lido nada sobre o país. Seus costumes me eram tão estranhos quanto seus habitantes. O pouco que se aprende sobre um país e um povo durante uma vida facilmente se esquece nas primeiras horas.
Mas restou-me a palavra Alá e esta eu não pude evitar. Com isso eu estava equipado para a minha experiência mais frequente, mais comovente e duradoura: a dos cegos. Em viagens aceitamos tudo, a indignação fica em casa. Olha-se, escuta-se, encantamo-nos com as coisas mais terríveis, porque são novidades. O bom viajante não tem coração.
Elias Canetti, Vozes de Marrakesh. L&PM, 1987, p. 28. Tradução de Marijane Lisboa
Mas restou-me a palavra Alá e esta eu não pude evitar. Com isso eu estava equipado para a minha experiência mais frequente, mais comovente e duradoura: a dos cegos. Em viagens aceitamos tudo, a indignação fica em casa. Olha-se, escuta-se, encantamo-nos com as coisas mais terríveis, porque são novidades. O bom viajante não tem coração.
Elias Canetti, Vozes de Marrakesh. L&PM, 1987, p. 28. Tradução de Marijane Lisboa
Comentários
Postar um comentário