O conto A aparição, que faz parte da Antologia Pan Americana de Stéphane Chao (Record, 2010), é talvez o primeiro texto da haitiana Edwidge Danticat (1969). Chao a classifica não como haitiana, mas sim uma "exilada linguística". Mudou-se aos 12 anos para Nova York, e recentemente apareceu na TV brasileira, no programa Milênio, entrevistada pelo Jorge Pontual.
- Você já vigiou a fronteira antes - disse doutor Berto - Já fez patrulha lá. E sabe que a maioria dos meus pacientes são haitianos. Cortadores de cana, muitos deles.
- O que você faz por eles?
- Normalmente recebemos dez ou doze para examinar, com doenças digestivas ou malária. Ontem foram cento e dez. Tivemos que estender lençois pelo terreno da clínica e deitá-los ali, para cuidar deles do lado de fora, ao ar livre. Muitos tinham sido feridos a facão. A alguns faltava um membro. Disseram que tinham sofrido uma emboscada à noite, atacados por soldados.
- Isso é ridículo.
- Você não pensaria assim se os tivesse visto. As pessoas não mentem nos seus leitos de morte.
- Essas acusações são um delírio - disse rindo o señor Pico - São um delírio.
O diálogo entre o doutor Berto e o senhor Pico - o médico não conseguiu salvar a vida de Victoria, filha de Pico e que não viveu tempo suficiente para ver ou até mesmo sentir a chuva. Pico reclama que a clínica do doutor lhe toma muito tempo. E pior: perde tempo cuidando de haitianos. Estamos, obviamente, na fronteira entre o Haiti e a República Dominicana.
Para Pico, Berto está desperdiçando sua vida; deveria se casar. O médico ainda cuida do gêmeo de Victoria, Rafael. E se dirige à narradora, Amabelle: Você escuta tudo que se diz nesta casa, não é?
Pico tenta convencê-la a cruzar a fronteira, tenta fazê-la crer que Pico não é, seguramente, seu amigo, e que ele nada poderá fazer para salvá-la. Estão matando haitianos nas estradas, à noite. Eles querem ver todos vocês fora desse lado da ilha.
Amabelle gosta da esposa de Pico e das crianças - agora, apenas Rafael. Mas ao voltar ao seu quarto, recebe uma inesperada visita.
Danticat relembra um tema pouco conhecido fora do Caribe - o massacre promovido em 1937, sob ordens de Trujillo, de milhares de haitianos que viviam na República Dominicana. Até hoje as tensões estão presentes - mesmo agora, dois anos após o terremoto que destroçou o já destroçado país.
- Você já vigiou a fronteira antes - disse doutor Berto - Já fez patrulha lá. E sabe que a maioria dos meus pacientes são haitianos. Cortadores de cana, muitos deles.
- O que você faz por eles?
- Normalmente recebemos dez ou doze para examinar, com doenças digestivas ou malária. Ontem foram cento e dez. Tivemos que estender lençois pelo terreno da clínica e deitá-los ali, para cuidar deles do lado de fora, ao ar livre. Muitos tinham sido feridos a facão. A alguns faltava um membro. Disseram que tinham sofrido uma emboscada à noite, atacados por soldados.
- Isso é ridículo.
- Você não pensaria assim se os tivesse visto. As pessoas não mentem nos seus leitos de morte.
- Essas acusações são um delírio - disse rindo o señor Pico - São um delírio.
O diálogo entre o doutor Berto e o senhor Pico - o médico não conseguiu salvar a vida de Victoria, filha de Pico e que não viveu tempo suficiente para ver ou até mesmo sentir a chuva. Pico reclama que a clínica do doutor lhe toma muito tempo. E pior: perde tempo cuidando de haitianos. Estamos, obviamente, na fronteira entre o Haiti e a República Dominicana.
Para Pico, Berto está desperdiçando sua vida; deveria se casar. O médico ainda cuida do gêmeo de Victoria, Rafael. E se dirige à narradora, Amabelle: Você escuta tudo que se diz nesta casa, não é?
Pico tenta convencê-la a cruzar a fronteira, tenta fazê-la crer que Pico não é, seguramente, seu amigo, e que ele nada poderá fazer para salvá-la. Estão matando haitianos nas estradas, à noite. Eles querem ver todos vocês fora desse lado da ilha.
Amabelle gosta da esposa de Pico e das crianças - agora, apenas Rafael. Mas ao voltar ao seu quarto, recebe uma inesperada visita.
Danticat relembra um tema pouco conhecido fora do Caribe - o massacre promovido em 1937, sob ordens de Trujillo, de milhares de haitianos que viviam na República Dominicana. Até hoje as tensões estão presentes - mesmo agora, dois anos após o terremoto que destroçou o já destroçado país.
Jacques Roumain> Os donos do orvalho, Ed.Vitoria. Em meados de 1954 uma editora ligada ao Partido Comunista no Brasil criou a Coleção Romances do Povo, dirigida por Jorge Amado. A literatura haitiana de esquerda estava representada pelo livro de Roumain. Nao sobreviveram para posteridade, nem Roumain, nem o livro, nem a coleção, nem os comunistas. E Jorge Amado, que tinha sido deputado pelo PCB, pulou do bote a tempo. E.
ResponderExcluirMelhor assim...
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