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Nazaré


Que veio o viajante fazer à Nazaré? Que faz em todas as povoações e lugares onde entra? Já se sangrou em saúde, já declarou que viajar não é isto, mas sim estar e ficar, e não pode estar sempre a dizê-lo. Porém, aqui terá de retornar a ladainha para que lhe seja garantida a absolvição: devia estar e ficar para ver os pescadores irem ao mar e do mar voltarem, oxalá que todos; devia saber a cor e o bater das ondas; devia puxar os barcos; devia gritar com quem gritasse e chorar com quem chorasse; devia pesar o peixe e o salário, o morrer e o viver. Seria nazareno, depois de ter sido poveiro e vareiro. Saramago, Viagem a Portugal, p. 296.


Esperava pouco de Nazaré e, talvez por isso mesmo, tenha sido surpreendido. De Batalha, esperava algo magnífico - como de fato é o Mosteiro. De Nazaré, não sabia o que esperar, e pensei inicialmente em um ponto de apoio para um passeio de dez horas num carro. Observou o senhor Bernardino as mulheres de preto - que perderam filho ou marido para o mar - e as mulheres de sete saias. Até hoje é possível vê-las; são mais idosas, estão sempre com as tais sete saias sobrepostas e que terminam ainda acima dos joelhos. De Nazaré Alta, a paisagem é exuberante, e podemos notar ainda a parte baixa, de praia, com seu casario bem conservado e harmônico.






Na parte baixa, as ruas perpendiculares à praia, para que os gritos de socorro dos pescadores pudessem -  e possam - ser escutados por toda a vila, o que se perderia com a abertura de grandes avenidas paralelas à orla, nos conta o senhor Bernardino. E de lá partimos para Óbidos.

Comentários

  1. Realmente me emocionei com a história das mulheres de Nazaré - mulheres fortes que se vêem sozinhas, tendo que conduzir sua própria vida e a de sua família. Ao vê-las nas ruas, com as setes saias e vestindo preto, percebemos que carregam todo peso do tempo e a força da responsabilidade em suas costas. Fiquei impressionada!!!

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