Nova
Antologia do Conto Russo, organizada por Bruno Barretto Gomide e lançado pela
Editora 34 em dezembro, traz não apenas contos de autores conhecidos no Brasil,
mas apresenta-nos alguns que jamais haviam sido traduzidos no Brasil. A edição,
em homenagem a Boris Schnaiderman, tem ainda o mérito de fazer a tradução
direta do russo.
Entre eles, Nikolai
Leskov (1831-1895), conhecido por sua Lady
Macbeth do distrito de Mtzenk, aqui representado por Viagem com um Niilista, na tradução de Noé Silva, que explica
tratar-se de uma história inspirada em um incidente que lhe fora relatado: um
senhor viajava no trem, respondendo negativamente a todos os pedidos de que
tirasse do assento uma mala que seria sua. Todos temiam tratar-se de um
terrorista, já que, na época, membros de organizações niilistas praticavam
atentados (como o que matou o czar Alexandre II). Na realidade, tratava-se de
um figurão, e a mala não lhe pertencia.
No conto, ninguém notou onde o indesejável hóspede
embarcara, mas não havia a menor dúvida de que aquele era um niilista de
verdade. Foi o que todos no trem pensaram ao ver o estranho passageiro. Um religioso
começou a confusão, incitando um militar para que fizesse alguma abordagem ao
estranho, sem maiores resultados.
O condutor pede, com
gentileza, que ele retire o cestinho, colocado no assento ao lado, para o vagão-bagageiro,
mas a resposta é seca – não o desejo. O
diácono , o militar e por fim o chefe de trem insistem, mas o passageiro não muda
a sua resposta – não o desejo.
Com a parada na
estação, e o chefe agora pergunta se a cesta lhe pertence. Não – para surpresa de todos. O que há na cesta? Logicamente: não sei.
E eis que a cesta é
aberta, entrando no escritório um judeu
com berro desesperado e disse aos gritos que aquele cestinho era seu e que
levava o vestido para uma senhora fidalga, e que a cesta fora colocada no vagão
por ele próprio e por nenhuma outra pessoa.
E o tal passageiro? Ele é um promotor de justiça.
O conto foi publicado
em 25 de dezembro de 1882, mas poderia tê-lo sido mês passado, com algumas
pequenas variações – sairia o niilista e surgiria um sujeito com traços
mediterrâneos. O ridículo da situação também não seria afetado. Tal como no Khadji-Múrat, parece que estamos
voltando à toda ao século XIX...
Comentários
Postar um comentário