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Dois dias em Ouro Preto




Depois de dez anos, voltamos a Ouro Preto, pela primeira vez com as crianças, em pleno festival de inverno e no ano em que se comemora seu 300º aniversário.



A cidade estava movimentada, mas não lotada; surgiram vários novos restaurantes, e hoje há opções de qualidade para além dos pratos típicos (que são ótimos, diga-se).

A Pousada do Mondego, que integra o Roteiro do Charme, fica num casarão do século 18, no Largo do Coimbra e em frente à Igreja de São Francisco de Assis e à casa onde viveu Cláudio Manuel (hoje, um restaurante) e ao lado da de Tomás Antonio Gonzaga. Consegue manter a atmosfera da época e, ao mesmo tempo, é arejado e à prova de alergia...




Nestes dez anos, os museus melhoraram bastante. A Casa dos Contos, antiga sede do Ministério da Fazenda, está toda reformada. A cela em que Claudio Manuel foi encontrado morto, no entanto, virou uma sala de exposições, e perdeu o ar soturno que sempre manteve. Mas o acesso às senzalas está melhor e, nos fundos, foi criado um parque, com trilha que leva até outro lado da cidade.




O Museu da Inconfidência também foi reformado, e a galeria com os túmulos dos inconfidentes permanece com uma atmosfera especial. À noite, é a construção mais bela da cidade.





Num passeio organizado pela Pousada, fomos à entrada de antigas minas, onde foi explicado que os escravos aqui eram baixos e fortes, em contraste com os mais altos da Bahia para a cultura do cacau.

E passamos também por igrejas mais afastadas do centro, como esta, a capela do Padre Faria, muito simples por fora mas sem dúvida a de interior mais suntuoso.


 

 Dois restaurantes merecem destaque – um, bem tradicional e de culinária típica, a Casa do Ouvidor, na rua Direita; o outro, Bené da Flauta, em frente ao hotel, onde jantei uma truta assada como há muito não comia.


 É uma cidade para voltar com frequência, para se perder nas ruazinhas e becos; em alguns deles quase podemos ver, à noite, umas pessoas tramando a independência...

Comentários

  1. Há exatamente 40 anos fiz minha ultima visita a Ouro Preto. A atmosfera era de um passado transportado para então. Seu comentario deu-nos vontade de voltar. Mas se a cidade não envelhece mais após 40 anos, nós, ao contrario, viramos museus ambulantes...

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