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A Cabeça de Tiradentes




O conto da semana é de Bernardo Guimarães (1825-1884), e integra as Histórias e Tradições da Província de Minas Gerais.

Ele inicia a história com uma passagem pela vida em Ouro Preto na época de Tiradentes. Minas, bem como o Brasil inteiro, era bem como uma vasta fazenda explorada em proveito da metrópole.

E nessa época de riqueza e opulência, de servilismo e degradação social, no meio da praça principal desta cidade se via uma cabeça humana dessecada, cravada sobre um alto poste.

Este poste e esta cabeça eram noite e dia guardados por uma sentinela.

E à noite uma lanterna se acendia para aluminar o lúgubre espetáculo.

O conto é de 1867. Na verdade, seria na República que Tiradentes se transformaria de um inconfidente em um verdadeiro herói, com sua imagem assemelhada à de Cristo.

Bernardo Guimarães pergunta o motivo da preocupação com o corpo, e compara o poder póstumo de Tiradentes ao de Ziska (nem o Google sabe dizer quem foi): Ou receavam que esse crânio, hasteado na ponta do estandarte da emancipação, fosse o sinal certo da queda dos tiranos e do triunfo da liberdade, como esse célebre tambor que os soldados húngaros fizeram da pele de seu bravo chefe Ziska, morto no campo de batalha, tambor que quando rufava à frente deles era seguro prenúncio da vitória?

Que ninguém sabe o que foi feito do corpo de Tiradentes, não há dúvida. Bernardo Guimarães conta que, na parte ocidental desta cidade, há uma rua chamada rua das Cabeças. E qual a origem desse nome?

Segundo o autor, a origem desse nome sinistro vem de que aí se fincavam na ponta de estacas as cabeças dos míseros enforcados pelas esquinas dos becos.

Mas, continua, lá vivia um velho misterioso e temido pelo povo, que mal falava com os vizinhos, que um dia descobriram o que ele fazia:

Viram-no abrir com ar de religioso respeito a portinhola de um nicho ou de um armário praticado na parede, tirar dele um crânio humano branco e mirrado, depô-lo silenciosamente sobre uma mesa colocada em frente a um oratório, e ajoelhando-se depois com os braços encostados sobre a mesa, assim ficar por longo tempo, em atitude de profunda meditação ou no êxtase de uma oração.

Alguns anos depois de sua morte, descobriu-se que o velho foi quem roubou a cabeça de Tiradentes, e que a caveira era do próprio. Mas, o que é feito porém desse crânio histórico?

É um conto para ser lido em Ouro Preto num domingo à noite, quando a cidade fica praticamente deserta e é fácil imaginar que numa daquelas casas do Largo do Coimbra, entre as casas de Tomás Antonio Gonzaga e Cláudio Manuel há um ancião lustrando uma caveira.

Comentários

  1. Fabio, tudo joia? Eu sou amiga da Chris e, volta e meia, passeio aqui pelo seu blog. Parabéns pela forma leve e agradável com que você o escreve.

    Fiquei curiosa sobre o tal Ziska. Aí vai o que eu descobri:Jan Žižka z Trocnova a Kalicha (c. 1360–1424), Czech general and Hussite leader, follower of Jan Hus, was born in the small village of Trocnov (now part of Borovany) in Bohemia, into a gentried family. According to chronicler Piccolomini, Žižka's dying wish was to have his skin used to make drums so that he might continue to lead his troops even after death. Žižka was so well regarded that when he died, his soldiers called themselves the Orphans (sirotci) because they felt like they had lost their father. His enemies said that "The one whom no mortal hand could destroy was extinguished by the finger of God".(Fonte: Wikipedia)

    Abraço!

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