O anúncio de uma vitória, numa época em que os vencedores realmente venciam e os perdedores efetivamente eram derrotados... Não me parece que hoje seja possível anunciar categoricamente a vitória da civilização sobre seus inimigos, como em 1945.
Se hoje estamos por aqui, acredito que devemos o fato ao autor do discurso, mais do que a qualquer outro.
Há alguns anos, li Churchill , de Lord Roy Jenkins (Ed. Nova Fronteira, 2002, traduzido por Heitor Aquino Ferreira), o que para mim é um modelo de biografia. Em cerca de 900 páginas, o autor apresenta a vida de Churchill, desde sua juventude como oficial do Exército Britânico na Guerra dos Boers, no auge do Império Britânico, até o "anoitecer", com sua morte em 1965, já com o país em posição definitivamente secundária no mundo.
Lord Jenkins iniciou sua carreira como deputado trabalhista. Foi ministro das Finanças e chegou a liderar o partido liberal-democrata. Isso não o impediu de, a despeito de apontar defeitos, erros de julgamento e mesquinharias do biografado, reconhecer seu valor. E, talvez por isso mesmo, suas palavras tenham um peso ainda maior:
"De mais importância que a comparação entre as diferentes exéquias é um julgamento entre Gladstone, indubitavelmente o maior primeiro-ministro do século dezenove, e Churchill, indubitavelmente o maior do século vinte. Quando comecei a escrever este livro, parecia-me ser Gladstone, por estreita margem, o mais eminente, com toda certeza o mais notável espécime de humanidade. Ao longo da obra, mudei de opinião. Hoje tenho Churchill, com todas as suas idiossincrasias, suas indulgências, suas ocasionais puerilidades, mas também sua centelha de gênio, sua tenacidade e sua permanente capacidade, certo ou errado, bem ou mal sucedido, de surgir sempre imenso, tenho Churchill como o mais grandioso ser humano que jamais ocupou o nº 10 de Downing Street" (p. 836).
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