Um texto anônimo é retirado das arcas do IHGB em 2010, com uma tese interessante que afirma que Machado de Assis se inspirou em um rumoroso caso judicial do Rio, em 1866, para a criação de seu Dom Casmurro.
Trata-se do assassinato de Helena Augusta pelo seu marido, o Dr. José Mariano. Como nos livros de Machado, temos ainda uma agregada (Leonor), um vizinho (Raimundo Martiniano) e uma escrava, que irá confirmar os encontros entre Helena (por sinal, o título de outro romance, publicado em 1876) e Raimundo. E, como em Dom Casmurro , uma traição nunca efetivamente demonstrada.
O solitário narrador, que vive com uma gata e sua biblioteca, faz inúmeros paralelos entre o crime e o romance, observando que diversos autores procuram suas fontes na realidade – como quando informa que Joaquim Manuel de Macedo já reclamava que muitas novelas partiam de casos criminais. “Obras anfíbias, portanto, entre a ficção e a realidade, boa parte das quais redigida a partir de processos clamorosos, como o do homicida Pontes Visgueiro, que não deixou de produzir variantes ficcionais”. E mesmo Aluísio de Azevedo, que “tirou Casa de Pensão, romance bem documentado, a que acrescenta uma série de timbres ficcionais. Busch teve papel de relevo no caso que inspirou o jovem romancista. E Aluísio não se saiu mal”. E assim procura defender sua tese.
A defesa do Dr. José Mariano, desempenhada pelo famoso advogado da época, Busch Varella, trata, obviamente, de responsabilizar a vítima: “Mais que o silêncio da morte, assiste-se ao canto da difamação. Helena é morta. Difícil ouvir-lhe as palavras, lançadas num abismo que tem por finalidade atenuar o crime de Mariano”. De fato, Mariano foi inocentado em dezembro de 1866, mostrando o sucesso da tática de defesa.
Lucchesi, assim, acaba por nos contar o caso real, aproveitando-o para imaginar uma possível influência em Machado, que em 1866 trabalhava para o Diário do Rio de Janeiro. Fica um livro, digamos, bastante refinado, de leitura muito agradável e com várias boas passagens. Uma grande diversão para os leitores de Machado e, sem dúvida, uma boa introdução à sua obra para os mais jovens.
Rio antigo no pequeno mapa do livro: Matacavalos é hoje a rua do Riachuelo, importante ligação do Estacio com a Lapa. Barbonos designa hoje um grupo de oficiais da Policia Militar cujo QG se situa na rua Evaristo da Veiga, referindo o antigo nome da rua. Finalmente, rua Direita é atualmente a rua 1o de março.
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