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Os Antiquários, de Pablo de Santis

Os Antiquários
Pablo de Santis
Tradução: Ivone C. Benedetti
Objetiva/Alfaguara
198 p.


Há muitos anos sou dono de um sebo. Fica na travessa La Piedad; a rua é estreita, o que evita o excesso de sol. Sinto-me protegido pelos livros, que formam paredes irregulares, muralhas de meu castelo. Já nos tempos de seu antigo dono (Carlos Calisser, vulgo Francês) a livraria se chamava La Fortaleza. No fundo fica meu escritório e uma escada pela qual subo até meu dormitório. Tenho uma otomana, um criado-mudo de madeira lustrada, um abajur de bronze. Não preciso de mais. O quarto não tem janela. Apesar da idade, não me fazem falta nem óculos nem a luz do dia para ler. (p. 12).

O dono do sebo é Santiago Lebrón. A história por ele narrada aconteceu na década de 1950, em Buenos Aires. Pablo de Santis (1963) escreve um breve romance sobre... vampiros.

 

Com relação a vampiros, sempre fui fiel ao original - de Bram Stoker - com imensa dificuldade de aceitá-los em romances (nada contra vê-los no cinema). Mas os vampiros portenhos de De Santis nada têm a ver como os que vem invadindo as livrarias e os cinemas nos últimos anos. 

Estes vampiros são os tais antiquários, colecionadores, que vivem em velhas livrarias - e não há cidade melhor que Buenos Aires para cenário (nesse ponto, ganha fácil da Transilvânia). Bibliófilos que zanzam pelas ruas da cidade. Certamente, se o autor fosse americano, já haveria um "roteiro" pelas ruas da cidade para acompanhar a trama.  

Os vampiros antiquários são inteligentes e, claro, sedentos por sangue - a sede primordial de que falam. 

Lebrón trabalha em um jornal e é convocado por um certo Ministério do Oculto e passa a acompanhar as atividades dos antiquários. Um incidente acaba por contaminá-lo, tornando-o um dos seus próprios investigados. E é claro que irá montar sua biblioteca. Lebrón tem interesses curiosos: procura, por exemplo, objetos deixados pelos leitores dentro dos volumes: fotos, mapas, cartas. 

Um trecho do livro é um alento (ou não) para um tradutor amador:

- É uma tradução ruim. Mas as traduções ruins são fundamentais na história da literatura: são a prova de que os bons livros resistem a qualquer coisa. Sem as más traduções, que mérito teria nossa fé?

Imagine Lebrón hoje, mais de 50 anos depois, contando-nos sua história. Os vampiros do Crepúsculo não parecem muito interessados em livros, sebos e antiquários. Por mais que eu goste do gadget, o que será dos antiquários com os Ipad e Kindle da vida? 

No fim das contas, não se trata de um livro sobre vampiros. Trata-se de um exemplo de literatura fantástica, tão explorada pelos autores argentinos (Borges e Bioy Casares, por exemplo), mas que trata de um universo paralelo - o dos sebos, antiquários, colecionadores - e, por que não, das sociedades secretas. 

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