Pular para o conteúdo principal

Conto da semana, de Miroslav Penkov



Miroslav Penkov (1982) acaba de receber o BBC International Short Story Award de 2012, com East of the West. O conto dá o título de uma coletânea com mais sete histórias do jovem autor búlgaro, e é o conto da semana.

Precisei de 30 anos e da perda daqueles que amei para finalmente chegar em Belgrado. Agora estou caminhando do lado de fora do apartamento da minha prima, com flores em uma mão e uma barra de chocolate na outra, ensaiando minha pergunta a ela. Agora mesmo um taxista sérvio cuspiu em mim e perdi tempo para tirar a mancha da minha camisa. Contei até onze. Vera, repito mais uma vez na minha cabeça, você casa comigo? (tradução livre).


Penkov inspirou-se num artigo de jornal sobre duas vilas na fronteira entre a Bulgária e a Sérvia, onde a cada cinco anos a população se reunia, com a autorização de ambos os governos, porque 70 anos antes formavam uma única cidade, búlgara. 
No conto, o narrador - Vladislav - se encontra, a cada cinco anos, com sua prima Vera – por quem é apaixonado – que mora do outro lado do rio. Eles se encontram clandestinamente, nadando no meio do rio; ao fundo jaz uma antiga igreja. A irmã de Vladislav, Elitsa, sonha em fugir para o Ocidente, a respeito do que, aliás, sabe muitas coisas. Ela quer fugir e viver em Munique, com seu namorado Boban, que também pertence à outra margem. 

Sobre sua mãe: professora na escola local, o que lhe causa problemas - não pode chamá-la de mãe durante as aulas, e ela ainda por cima sempre sabe se ele fez ou não o dever de casa. Por outro lado, consegue as questões das provas, e as vende aos colegas...

A história segue o rio - ele é um personagem tão importante quanto Vlad ou Vera. O comunismo acaba, Vera deixa o país, casa-se e tem um filho; o marido morre no Kosovo (já estamos na década de 90); ela escreve para Vladislav, quase que implorando pela sua visita. Ele agora está sozinho - a irmã foi assassinada pelos guardas da fronteira e os pais já morreram... 

Uma coisa boa sobre nossos países é que se você não pode comprar algo com dinheiro, pode comprá-lo por muito dinheiro, constata, após subornar os guardas da fronteira. E a narrativa retorna ao ponto de partida, mas o que acontece quando ele finalmente encontra Vera não pode ser dito, mas lido. É esperar para ver se ele é traduzido por aqui. É possível acompanhar, em inglês, a entrevista em que Penkov fala do conto, aqui.




Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O conto da semana, de Italo Calvino

O conto da semana é novamente de Calvino – Quem se contenta – e integra Um General na Biblioteca : Havia um país em que tudo era proibido. Ora, como a única coisa não-proibida era o jogo de bilharda, os súditos se reuniam em certos campos que ficavam atrás da aldeia e ali, jogando bilharda, passavam os dias. E como as proibições tinham vindo paulatinamente, sempre por motivos justificados, não havia ninguém que pudesse reclamar ou que não soubesse se adaptar. Passaram-se os anos. Um dia, os condestáveis viram que não havia mais razão para que tudo fosse proibido e enviaram mensageiros para avisar os súditos que podiam fazer o que quisessem. Os mensageiros foram àqueles lugares onde os súditos costumavam se reunir. - Saibam – anunciaram – que nada mais é proibido. Eles continuaram a jogar bilharda. - Entenderam? – os mensageiros insistiram – Vocês estão livres para fazerem o que quiserem. - Muito bem – responderam os súditos – Nós jogamos bilharda. Os mensagei...

Conto da semana, de Jorge Luis Borges - Episódio do Inimigo

Voltamos a Borges. Este curto Episódio do Inimigo está no 2º volume das Obras Completas editadas pela Globo. É um bom método para se livrar de inimigos: Tantos anos fugindo e esperando e agora o inimigo estava na minha casa. Da janela o vi subir penosamente pelo áspero caminho do cerro. Ajudava-se com um bastão, com o torpe bastão em suas velhas mãos não podia ser uma arma, e sim um báculo. Custou-me perceber o que esperava: a batida fraca na porta. Fitei-o, não sem nostalgia, meus manuscritos, o rascunho interrompido e o tratado de Artemidoro sobre os gregos. Outro dia perdido, pensei. Tive de forcejar com a chave. Temi que o homem desmoronasse, mas deu alguns passos incertos, soltou o bastão, que não voltei a ver, e caiu em minha cama, rendido. Minha ansiedade o imaginara muitas vezes, mas só então notei que se parecia de modo quase fraternal, com o último retrato de Lincoln. Deviam ser quatro da tarde. Inclinei-me sobre ele para que me ouvisse. - Pensamos que os anos pa...

A Magna Carta, o Rei João e Robin Hood

É claro que o rei João não se ajoelhou aos pés de Robin Hood, mas é interessante lembrar hoje, dia 15 de junho, quando a Magna Carta completa 800 anos, a ligação entre a ficção e a História, na criação do que pode ser considerado o mais importante documento da democracia. João Sem-Terra. John Lackland. Nasceu em Oxford, 1166, o quarto filho de Henrique II, o que lhe custou toda possibilidade de receber uma herança - daí seu apelido. Quando o irmão Ricardo (Coração de Leão) assume o trono, em 1189, recebe mais um golpe e, obviamente, irá fazer de tudo para tomar o poder. Em 1199, Ricardo é morto e João, finalmente, torna-se rei. Para custear as guerras, Ricardo aumentou drasticamente os impostos a um nível inédito na Inglaterra. Para piorar, ao retornar de uma Cruzada, foi feito prisioneiro dos alemães. Há quem diga que o resgate cobrado (e pago) seria equivalente a 2 bilhões de libras. Na época de João, o cofre estava vazio, mas as demandas, explodindo como n...