Badenheim 1939
Aharon Appelfeld
Tradução: Moacir Amâncio
Amarilys, 2012
172 p.
A primavera voltou a Badenheim. Na igreja da aldeia, próximo à cidade, os sinos badalaram. A sombra das árvores retirou-se para a floresta. O sol desfez os restos da escuridão e a luz estendeu-se ao longo da rua principal e, então, de praça em praça. Era um instante de transição. Os veranistas estavam prestes a invadir a cidade. Dois fiscais seguiam pela rua e examinavam os encanamentos. A cidade, que trocara muitos moradores no correr dos anos, mantinha a beleza, uma beleza singela.
Num pequeno balneário judeu na Áustria, o dr. Pappenheim conclui os preparativos para o seu famoso festival de música. Com a chegada dos veranistas e dos músicos, surge o poderoso Departamento Sanitário, a divisão de saúde pública. E todos se vêem presos na cidade. Os correios, os restaurantes, tudo é fechado, e começa a faltar comida. Enquanto isso, surge a ordem de evacuação para a Polônia.
Todos nós sabemos o que significou esse bloqueio. Mas o dr. Pappenheim ficou eufórico:
- Aqui o público formado pelos veranistas é muito simpático. E este ano, por causa do bloqueio, a atmosfera é intimista. Se o maestro nos conceder uma apresentação, será a experiência de nossas vidas.
Todos nós sabemos o que aconteceu com os judeus enviados para a Polônia. Mas o dr. Pappenheim estava bem otimista:
- Ensaiar, meninos, ensaiar - incentivava-os Pappenheim - Em pouco tempo partiremos para a Polônia e vocês não ensaiam? As exigências artísticas na Polônia são muito rigorosas.
Appelfeld não utiliza, em momento algum, as palavras "nazista" ou "campo de concentração". A ideia de negação está em todo lugar. As preocupações são as mais absurdas - perguntam, inclusive, se na Polônia teriam direito à aposentadoria...
Por outro lado - e o mais assustador - lemos o livro em perspectiva. Nós sabemos o que se passou. Mas não um veranista judeu em Badenheim em 1939 - não em toda a sua extensão. Para nós, Pappenheim é como Pangloss, com seu otimismo cego. Mas para aqueles que estavam com ele, talvez apenas otimista. As restrições são impostas com uma aparente naturalidade e relação de causa e consequência que iludem os personagens.
No final, o inevitável - imundos vagões de carga se abrem para os passageiros esperando pela "viagem", vozes berrando para que entrem logo de uma vez, as pessoas desaparecendo nos vagões. E um dos melhores encerramentos de romance que li nos últimos tempos.
Appelfeld não poderia ser mais claro - ainda que o seja de forma tão indireta.
- Ensaiar, meninos, ensaiar - incentivava-os Pappenheim - Em pouco tempo partiremos para a Polônia e vocês não ensaiam? As exigências artísticas na Polônia são muito rigorosas.
Appelfeld não utiliza, em momento algum, as palavras "nazista" ou "campo de concentração". A ideia de negação está em todo lugar. As preocupações são as mais absurdas - perguntam, inclusive, se na Polônia teriam direito à aposentadoria...
Por outro lado - e o mais assustador - lemos o livro em perspectiva. Nós sabemos o que se passou. Mas não um veranista judeu em Badenheim em 1939 - não em toda a sua extensão. Para nós, Pappenheim é como Pangloss, com seu otimismo cego. Mas para aqueles que estavam com ele, talvez apenas otimista. As restrições são impostas com uma aparente naturalidade e relação de causa e consequência que iludem os personagens.
No final, o inevitável - imundos vagões de carga se abrem para os passageiros esperando pela "viagem", vozes berrando para que entrem logo de uma vez, as pessoas desaparecendo nos vagões. E um dos melhores encerramentos de romance que li nos últimos tempos.
Appelfeld não poderia ser mais claro - ainda que o seja de forma tão indireta.
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