Pular para o conteúdo principal

Conto da semana, de Fred Di Giacomo

O conto da semana vem de um livro que será lançado no dia 25 de outubro pela Editora Patuá  - Canções para ninar adultos, de Fred Di Giacomo. É da mesma editora o livro de contos Mind the Gap, da Vera Helena Saad Rossi. A edição é caprichada, no formato de um compacto de vinil e dividido, como um disco, em dois lados; o Lado A tem clara influência de escritores como Stevenson, Céline, Kafka e Borges; o Lado B, mais "maldito". 

Outro aspecto que chama a atenção: uma sugestão, ao final do livro, de músicas para acompanhar alguns contos - e a expressa recomendação de que as demais histórias sejam lidas em silêncio.

Destacamos, na verdade, dois contos, um de cada lado.

No Lado A, O homem que colecionava dedicatórias, o narrador - Pietro - nos conta de sua peculiar coleção de livros, mais exatamente de dedicatórias em livros. Coleção iniciada com um presente de seu pai, um exemplar de a Ilha do Tesouro, de Robert Louis Stevenson, com uma dedicatória que dizia: 'para meu filho, Pietro, um livro que marcou minha infância. Um dia você será um homem e então desbravaremos os 7 mares juntos. Com amor, seu pai'.

Pietro nos fala de sua coleção, sem deixar de dar alguns recados - fala que as pessoas não entendem o que livros de Paulo Coelho fazem na sua coleção (para Paulo Coelho, aliás, dedica um miniconto bem interessante...); fala das obras ruins que possui, e cita um candidato a prefeito derrotado este ano. Será que ele possui um exemplar de Marimbondos de Fogo? Mas uma "autodedicatória" lhe chama a atenção e Pietro passa a procurar a autora.

No Lado B, A dama do fechamento, uma fantástica estagiária do caderno de cultura - uma máquina de provocar taquicardia - devora estagiários, repórteres, editores, faxineiros, mas não consegue conquistar um determinado jornalista, revelado na última linha.

Os contos revelam não apenas um escritor, mas também um leitor atento; a prosa é ágil e bem-humorada e o resultado de tantas citações em nenhum momento fica pesado ou artificial. Definitivamente, vale conferir. 

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

O conto da semana, de Italo Calvino

O conto da semana é novamente de Calvino – Quem se contenta – e integra Um General na Biblioteca : Havia um país em que tudo era proibido. Ora, como a única coisa não-proibida era o jogo de bilharda, os súditos se reuniam em certos campos que ficavam atrás da aldeia e ali, jogando bilharda, passavam os dias. E como as proibições tinham vindo paulatinamente, sempre por motivos justificados, não havia ninguém que pudesse reclamar ou que não soubesse se adaptar. Passaram-se os anos. Um dia, os condestáveis viram que não havia mais razão para que tudo fosse proibido e enviaram mensageiros para avisar os súditos que podiam fazer o que quisessem. Os mensageiros foram àqueles lugares onde os súditos costumavam se reunir. - Saibam – anunciaram – que nada mais é proibido. Eles continuaram a jogar bilharda. - Entenderam? – os mensageiros insistiram – Vocês estão livres para fazerem o que quiserem. - Muito bem – responderam os súditos – Nós jogamos bilharda. Os mensagei

Conto da semana, de Jorge Luis Borges - Episódio do Inimigo

Voltamos a Borges. Este curto Episódio do Inimigo está no 2º volume das Obras Completas editadas pela Globo. É um bom método para se livrar de inimigos: Tantos anos fugindo e esperando e agora o inimigo estava na minha casa. Da janela o vi subir penosamente pelo áspero caminho do cerro. Ajudava-se com um bastão, com o torpe bastão em suas velhas mãos não podia ser uma arma, e sim um báculo. Custou-me perceber o que esperava: a batida fraca na porta. Fitei-o, não sem nostalgia, meus manuscritos, o rascunho interrompido e o tratado de Artemidoro sobre os gregos. Outro dia perdido, pensei. Tive de forcejar com a chave. Temi que o homem desmoronasse, mas deu alguns passos incertos, soltou o bastão, que não voltei a ver, e caiu em minha cama, rendido. Minha ansiedade o imaginara muitas vezes, mas só então notei que se parecia de modo quase fraternal, com o último retrato de Lincoln. Deviam ser quatro da tarde. Inclinei-me sobre ele para que me ouvisse. - Pensamos que os anos pa

A Magna Carta, o Rei João e Robin Hood

É claro que o rei João não se ajoelhou aos pés de Robin Hood, mas é interessante lembrar hoje, dia 15 de junho, quando a Magna Carta completa 800 anos, a ligação entre a ficção e a História, na criação do que pode ser considerado o mais importante documento da democracia. João Sem-Terra. John Lackland. Nasceu em Oxford, 1166, o quarto filho de Henrique II, o que lhe custou toda possibilidade de receber uma herança - daí seu apelido. Quando o irmão Ricardo (Coração de Leão) assume o trono, em 1189, recebe mais um golpe e, obviamente, irá fazer de tudo para tomar o poder. Em 1199, Ricardo é morto e João, finalmente, torna-se rei. Para custear as guerras, Ricardo aumentou drasticamente os impostos a um nível inédito na Inglaterra. Para piorar, ao retornar de uma Cruzada, foi feito prisioneiro dos alemães. Há quem diga que o resgate cobrado (e pago) seria equivalente a 2 bilhões de libras. Na época de João, o cofre estava vazio, mas as demandas, explodindo como n