O
conhecimento das leis positivas, dada a dificuldade de sua compreensão, pode
conduzir a um resultado contrário àquele que perseguiu e, amiúde, pode suceder
que em vez de solucionar os pleitos, os prolonga indefinidamente, o que acaba
acarretando uma ansiedade desenfreada nos homens. No entanto, reconhecemos que
estas leis foram estabelecidas por príncipes e jurisconsultos piedosos. Mas como
a ciência dos adversários é a mesma, como o poder de argumentação tem em ambas
as partes o mesmo valor e o espírito humano se inclina para o mal, aqueles que
exercem essa profissão acabam por se inclinar a enredar os pleitos em vez de
liquidá-los, e para isso fazem interpretações distorcidas dos textos legais durante
os julgamentos, lançando mão de detestáveis artifícios absolutamente
discordantes do pensamento do legislador.
Por isso,
e apesar do amor que professamos aos livros desde nossa infância – amor este
que nos prendeu com tal paixão que todo nosso afã sempre se encaminhou para a
aquisição de livros -, a posse de livros de direito jamais nos comoveu e não gastamos
um tostão em sua compra pois, como disse Aristóteles, verdadeira luz da
doutrina, quando nos fala da lógica em seu opúsculo De pomo et de morte, as leis são tão úteis como o escorpião e a
lacraia.
Richard de Bury (1287-1345),
Bispo de Durham e Chanceler do Rei Eduardo III. Philobiblon.
Ateliê Editorial. Traduzido por Marcello Rollemberg, 2004
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