A farsa
mais duradoura da literatura francesa, Maistre Pierre Pathelin, foi
representada pela primeira vez por volta de 1464, repetindo-se até 1872. Pathelin
é um pobre advogado faminto de casos. Convence um negociante de fazendas a
vender-lhe seis varas de pano, e convida-o para jantar naquela noite a fim de
receber o pagamento. Quando o comerciante chega, Pathelin está de cama ardendo
em fingida febre, e afirma nada saber a respeito das varas ou do jantar. O comerciante
sai indignado, encontra o pastor de seu rebanho, acusa-o secretamente de dispor
de vários carneiros e convoca-o perante um juiz. O pastor procura um advogado
barato e encontra Pathelin, que o aconselha a fingir de idiota e a responder a
todas as perguntas com o bé do carneiro. O juiz, iludido com os bés e
atrapalhado pela mistura de queixas do comerciante tanto contra o pastor como
contra o advogado, proporciona à França uma frase célebre ao pedir a todas as
partes: Revenons
à ces moutons – Voltemos a esses
carneiros; e por gim, desesperando de extrair qualquer lógica da confusão,
encerra o caso. O triunfante Pathelin pede a sua paga, mas o pastor responde
apenas “bé” e o mentiroso esperto é enganado pelo simplório. (...) Rabelais
deve ter rememorado Pathelin quando imaginou Panurge, e Molière reencarnou Gringoire
e o autor desconhecido desta peça.
A Reforma (História da
Civilização, VI), de Will Durant, p. 85. Record, 2002.
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