O Homem de Areia é o conto mais conhecido do alemão Ernst Theodor Amadeus Hoffmann (1766-1822). É, seguramente, um dos meus contos favoritos.
Mas também, com muita frequência, papai nos dava livros ilustrados para folhear e punha-se muito calado e imóvel na poltrona, soltando baforadas tão densas que todos acabávamos envoltos em uma neblina de fumaça. Nessas noites, mamãe ficava muito triste e, assim que o relógio dava as nove horas, dizia: "Vamos, meninos! Para a cama! Para a cama! O Homem de Areia está chegando, eu sei".
Nessas ocasiões, eu sempre ouvia barulho lá fora, passos lentos e pesados subindo a escada: só podia ser o Homem de Areia.
Certa vez, aquelas pisadas abafadas me assustaram muito; quando estávamos indo para o quarto, eu peguntei: "Mamãe! Como é esse Homem de Areia tão malvado, que não nos deixa ficar com o papai? Como é ele, afinal?" . E ela respondeu: "O Homem de Areia não existe, meu filho. Quando digo que ele chegou, significa que vocês estão com tanto sono que mal conseguem manter os olhos abertos, como se neles tivessem jogado areia".
Mas a babá é explícita: é um homem mau que aparece para as crianças que não querem ir para a cama e joga punhados de areia em seus olhos até que estes saltem das órbitas, cobertos de sangue; então ele os guarda em um saco e os leva para a Lua, onde os seus filhos o comem...
Trata-se, na verdade, de uma antiga lenda alemã. O narrador - Natanael - em sua carta a Lotário, irmão de sua noiva Clara, sabe que hoje, já adulto, não tem como acreditar na história. Mas, escreve, quando tinha dez anos, a curiosidade o fez espiar um encontro entre seu pai e um advogado - sempre um advogado... - Coppelius. Um homem alto, de ombros largos, cabeça exageradamente grande, cara amarela, quase ocre; uma boca que se contorcia em um sorriso maligno.
Este era o Homem de Areia, um monstro fantasmagórico que semeava tristeza - é o que concluía pela expressão de seus pais a cada visita do advogado. Parece ter assistido a uma sessão de práticas de alquimia - o advogado descobre, agarra-o e diz que irá arrancar um de seus olhos. O pai intervém e Coppelius o deixa em paz.
Natanael está apavorado. Mas isto não é o pior. Um ano depois, quando a família está sentada à mesa, mal o relógio soa as nove badaladas, Coppelius surge à casa. A mãe anuncia a visita, às lágrimas, ao pai.
A mãe se retira com Natanael, que é obrigado a ir dormir. Ouve-se uma explosão, a criada grita, a mãe desmaia -
Coppelius, maldito Satanás, tu mataste meu pai, gritei, antes de perder os sentidos.
Natanael conclui a carta contando a Clara do retorno de Coppelius - agora, como um mecânico chamado Giuseppe Coppola.
Clara escreve a Natanael tentando convencê-lo a desistir desta ideia - Coppelius e Coppola apenas existiriam na cabeça dele... Não é à toa que Freud tanto falou e escreveu sobre este conto.
Depois de mais uma carta de Natanael a Lotário, é este quem toma a narrativa - e nos conta o fim desta história; o que aconteceu ao seu pobre amigo, o jovem estudante Natanael, e que agora me disponho a narrar!
O quebra nozes e baseado em Hoffmann. E a opera Os contos de Hoffmann de Ofenbach e brilhante. Vimos pela opera de NY. Esta no YTb. E
ResponderExcluirProcuro pela letra em português da musica Barcarolle dos Contos de Hoffmann. Alguém conhece? Sabe quem gravou?
ResponderExcluirÉ coisa dos anos 40. Minha mãe cantava muito.
Regina, obrigado pela visita! Não sei, mas acho que consegui: http://letras.mus.br/filippa-giordano/1605479/traducao.html
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