A edição da Cosac
Naify, caprichada como sempre, conta com a tradução de Rubens Figueiredo, a
primeira diretamente do russo. Um grande livro grande, que cobre a Rússia de
1805 a 1812, cobrindo as guerras com a França – mas nunca a elas se resumindo. A
infinidade de personagens, reais ou não, assusta qualquer um, mas a edição
apresenta um glossário com os personagens reais. Uma vantagem é que Tolstoi
procura expor amplamente as qualidades – e defeitos – de seus personagens, o
que, de certa forma, facilita a vida do leitor.
Uma curiosidade:
estávamos até então acostumados e submetidos a traduções feitas a partir de versões
francesas. Mas nesta, fica evidente que – estamos no século XIX – a nobreza
russa fala mesmo é o francês – há parágrafos inteiros; diálogos e cartas
escritas originalmente neste idioma. E isso com Napoleão batendo à porta...
O Livro I tem 610
páginas. A história se inicia em São Petersburgo, 1805, Pierre é o filho
ilegítimo do conde Bezukov, que o reconhecerá no leito de morte (há uma menção
ao advogado da família, Dmitri Onufritch, que não sei se repetirá),
deixando-lhe sua imensa fortuna.
Anthony Hopkins é Pierre (BBC, 1972)
Seu amigo, o príncipe Andrei Bolkonski,
servirá na campanha na Áustria, sob o comando de Kutuzov. É um oficial
idealista:
Era um
dos raros oficiais no estado-maior que tinham o máximo interesse em estar a par
do andamento geral das operações de guerra. Ele fará questão de ir para a frente
de batalha.
Natasha Rostov ainda
é uma criança, mimada e acostumada a ser o centro das atenções.
Napoleão, apesar de
tudo, não parece ser levado muito a sério. Andrei, aliás, assim se refere a ele
– e sobra também para os alemães: - Bonaparte nasceu com boa estrela. Seus soldados
são ótimos. Além do mais, começou atacando os alemães. Só os preguiçosos não vencem
os alemães. Desde que o mundo é mundo, todos vencem os alemães. E eles não vencem
ninguém. Só vencem uns aos outros. Bonaparte fez a sua glória em cima deles (p.
223). Logicamente, ainda naquele mesmo século, os alemães começariam a ser
levados a sério...
Na segunda parte,
vemos os mínimos detalhes da guerra – Tolstoi estudou profundamente a campanha
russa. Andrei e o conde Nikolai Rostov ocupam essa parte, que conta ainda com o
próprio Napoleão – no final, Andrei, ferido, é levado à presença do imperador, que elogia sinceramente os inimigos.
O príncipe Andrei, entre outros feridos desenganados, foi entregue aos cuidados dos habitantes locais.
O final do livro deve ser lido ao som da abertura 1812 de Tchaicovsky. Tudo a ver... E.
ResponderExcluirJá o inicio do 2o volume deve ser lido ao som da sinfonia (3a.) beethoviana que pretendia, em inicio, homenagear Bonaparte. E.
ResponderExcluir