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Sequestrando Cervantes, de Antônio Xerxenesky



Em A Página Assombrada por Fantasmas (Editora Rocco, 2011), Antônio Xerxenesky (n. 1984) apresenta nove contos, quase todos passados no futuro. Neles, o autor se vale das leituras que fez – Vila-Matas, Pynchon, Cervantes - para criar situações na fronteira entre ficção e realidade. Na verdade, essas leituras são os principais personagens de seus contos. Neste sentido, é impossível não lembrar imediatamente de Enrique Vila-Matas...

Em Sequestrando Cervantes, o conto da semana, Xerxenesky mostra um mundo em 2085, no Reino Unido, sob domínio de um “partido ceticista”. Um mundo em que é raro encontrar folhas de papel, os livros “analógicos” ou mesmo especialistas em literatura.

O novo regime se propõe a alterar os livros – no caso, Dom Quixote; os livros de cavalaria de sua biblioteca seriam substituídos por tratados científicos. Também as coisas seriam invertidas, e Sancho veria os gigantes, sendo repreendido por Quixote (aliás, Alonso Quijano). Um complô contra os livros, liderados pelo governo, que o narrador parece descobrir ao abrir uma pasta esquecida num café.

Na pasta, papeis – coisa rara. O governo continuava usando este suporte porque papel se tornou muito mais seguro do que texto digitalizado. E descobre, ao ler o calhamaço de 500 páginas, o plano da alteração literária progressiva: reescrevendo o romance, ao longo do tempo, ninguém notaria e a memória coletiva se esqueceria dos detalhes. Logo Quixote não seria mais louco, mas míope; velho demais para a época, havia desgastado sua visão com o excesso de leituras.

Algo tem que ser feito, mas o quê? O narrador reconhece que nada lhe resta a não ser contar essa história – a história do fim.

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