Pular para o conteúdo principal

The Sense of an Ending, de Julian Barnes

The Sense of an Ending by Julian Barnes (Knopf Jacket)

Random House
2011
144 p.

What you end up remembering isn't always the same as what you have witnessed.

O livro acaba de levar o Man Booker Prize 2011. Barnes já havia integrado quatro shortlists e agora, finalmente, recebe o mais importante prêmio literário inglês. Li pelo Kindle, e a Editora Rocco ainda não definiu a data da edição brasileira.

History is that certainty produced at the point where the imperfections of memory meet the inadequancies of documentation.

Tony Webster inicia falando de sua juventude, com seus amigos Alex e Colin. Um grupo mediano, “comum”. Na escola conheceu Adrian Finn, um sujeito de classe social bem mais elevada, além de mais inteligente que seus colegas; alguém que já havia lido Camus e discutia abertamente nas aulas de literatura com uma superioridade que impressionava a todos. Nesta época, todos se chocam com o suicídio de Robson, que havia engravidado a namorada – “Sorry, mum”. Mas eles crescem, cada um vai para seu canto e perdem o contato. Adrian, claro, vai para Cambridge.

Mais tarde, Tony inicia um namoro com Veronica, que fica dentro das normas da época – sem sexo completo. Uma viagem desastrosa à casa dos pais da garota – Tony fica absolutamente desconfortável na presença do pai e do irmão de Veronica e jamais se esquecerá desse final de semana – e depois o fim do longo relacionamento. E eis que o inteligente e superior Adrian reaparece, fica com Veronica (que passa a ignorar Tony) e depois, inexplicavelmente, comete suicídio.

It strikes me that this may be one of the differences between youth and age: when we are young, we invent different futures of ourselves; when we are old we invent different pasts for others.

Quarenta anos depois Tony, divorciado, e agora com seus sessenta e tantos anos, passa esse período em revista ao descobrir que recebera um legado de cerca de 500 libras da mãe de Veronica - que ele apenas encontrara na sua desastrada vista à casa da ex-namorada - alem da notícia da existência dos diários de Adrian.

That memory is what we thought we’d forgotten.

Tony redescobre ter enviado uma carta transbordando grosserias para Veronica e Adrian, algo que agora o envergonha. Logo ele, um homem pacato, amigo da ex-esposa, um sujeito verdadeiramente “comum” e que jamais fizera algo contra alguém.

Em menos de 150 páginas, Barnes consegue mostrar culpa e remorso; o passado como um evento incerto e não sabido; os truques que a memória lhe prega. Como Veronica, agora, o assombra: You still don’t get it. You never did, and you never will.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O conto da semana, de Italo Calvino

O conto da semana é novamente de Calvino – Quem se contenta – e integra Um General na Biblioteca : Havia um país em que tudo era proibido. Ora, como a única coisa não-proibida era o jogo de bilharda, os súditos se reuniam em certos campos que ficavam atrás da aldeia e ali, jogando bilharda, passavam os dias. E como as proibições tinham vindo paulatinamente, sempre por motivos justificados, não havia ninguém que pudesse reclamar ou que não soubesse se adaptar. Passaram-se os anos. Um dia, os condestáveis viram que não havia mais razão para que tudo fosse proibido e enviaram mensageiros para avisar os súditos que podiam fazer o que quisessem. Os mensageiros foram àqueles lugares onde os súditos costumavam se reunir. - Saibam – anunciaram – que nada mais é proibido. Eles continuaram a jogar bilharda. - Entenderam? – os mensageiros insistiram – Vocês estão livres para fazerem o que quiserem. - Muito bem – responderam os súditos – Nós jogamos bilharda. Os mensagei

Conto da semana, de Jorge Luis Borges - Episódio do Inimigo

Voltamos a Borges. Este curto Episódio do Inimigo está no 2º volume das Obras Completas editadas pela Globo. É um bom método para se livrar de inimigos: Tantos anos fugindo e esperando e agora o inimigo estava na minha casa. Da janela o vi subir penosamente pelo áspero caminho do cerro. Ajudava-se com um bastão, com o torpe bastão em suas velhas mãos não podia ser uma arma, e sim um báculo. Custou-me perceber o que esperava: a batida fraca na porta. Fitei-o, não sem nostalgia, meus manuscritos, o rascunho interrompido e o tratado de Artemidoro sobre os gregos. Outro dia perdido, pensei. Tive de forcejar com a chave. Temi que o homem desmoronasse, mas deu alguns passos incertos, soltou o bastão, que não voltei a ver, e caiu em minha cama, rendido. Minha ansiedade o imaginara muitas vezes, mas só então notei que se parecia de modo quase fraternal, com o último retrato de Lincoln. Deviam ser quatro da tarde. Inclinei-me sobre ele para que me ouvisse. - Pensamos que os anos pa

Conto da semana - Saki

O conto da semana é   A Porta Aberta , de Saki, ou melhor, Hector Hugh Munro (1870-1916). Saki nasceu na Índia; o pai era major britânico e inspetor da polícia de Burma. O autor morreu no front francês durante a I Guerra. Já havia falado dele num post sobre a coleção Mar de Histórias , de Ronai e Aurélio, bem como um curta nacional. Ele está no volume 9. Mas apenas mencionei este conto, de cerca de cinco páginas. O vídeo acima é uma produção britânica de 2004 com Michael Sheen (o Tony Blair do filme "A Rainha") como Framton Nuttel, e Charlotte Ritchie como Vera, a menina de cerca de quinze anos que "faz sala" enquanto sua tia não chega. E começa a contar ao visitante sobre a terrível "tragédia" que se abateu sobre a tia, a Sra. Sappleton. O conto é um dos mais famosos de Saki, conhecido por tratar do lado cruel das crianças.