Famílias compravam papéis de empresas recém criadas, muitas delas fantasmas e que jamais foram de fato constituídas (mas nem todas; a Companhia de Construções Civis foi responsável pela urbanização de Copacabana), dando como pagamento fazendas e títulos da dívida pública. Esta foi, inclusive, a grande participação de Ferreira Sodré, advogado criado pelo Visconde, e que:
Não carregava, porém, nome lá muito puro. Pródigo e, solteiro embora, precisando sempre de dinheiro, que espalhava a rodo pelo corrido de parasitas e admiradores de que vivia cercado, exercia a advocacia administrativa com todo o desfaçamento e tanto mais proveito, quanto os ministros conheciam o seu inestimável valor e préstimo nos dias de apuros, interpelações e crises.
Não à toa, Ferreira Sodré tinha seu lema: “não procurem fazer os outros melhores do que são – Deus os criou assim, a culpa é Dele”. Assim, não devemos nos surpreender quando Costa Bretas o procura em seu escritório, no Rio, para a montagem de um estabelecimento modelo de velas de todos os tipos,
Tudo, porém, com muitos, mas muitos auxílios do Estado, isenções completas dos direitos nas alfândegas a dar com o pau, dos pagamentos e do resto (...)
Para, em seguida, responder à oferta do advogado, que se comprometeu a auxiliá-lo no lançamento da “companhia”:
Qual companhia!... Isto está ficando corriqueiro demais... O meu plano é outro, muito mais rápido, expedito, sem barulho, nem zabumgagens... Digo meu, mas de fato não é meu... Cartas na mesa... Sou um simples testa de ferro... A roça já está feita, é só colher o milho.
Costa Bretas informa que pretende recorrer à Companhia Nacional de Iluminação, para obrigá-la a comprar-lhe suas debêntures. Ao saber que Ferreira Sodré é acionista da futura vítima, pede-lhe desculpas, mas também lealdade. Mas o advogado minimiza o fato:
Ora, replicou o doutor, 50 ações, uma ninharia... Até convém isto aos seus interesses... Tem aliado seguro dentro da praça que vai ser cercada... Farei ver quanto importa à Nacional comprar sem hesitação o privilégio... O Senhor é um felizardo, não há dúvida... Veio logo bater à melhor porta...
As medidas adotadas o foram com atraso. Os bancos emissores foram fundidos. E Taunay, sobre o destino destes e de outras instituições:
- Em que darão todas essas empresas? perguntara um dos ingênuos da praça.
- Fundir-se-ão num só banco, respondera ele convicto.
- Deveras, qual deles?
- O banco dos réus.
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