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Memórias Secretas (2015), de Atom Egoyan



Boa parte da crítica torceu o nariz. Chegou a afirmar que se trata de um péssimo filme. Não é, não. O último de Atom Egoyan vale muito a pena. Há alguns problemas e furos no roteiro do estreante Benjamin August - o vendedor da arma que não se importa com o fato de o comprador estar claramente senil e confessar que se esquece das coisas, por exemplo - mas que, honestamente, não comprometem o filme como se tem afirmado por aí.

Zev Guttman (Christopher Plummer) acaba de perder a esposa Ruth. Vive num asilo nos EUA. Seu amigo Max Rosenbaum (Martin Landau), de cadeira de rodas e problemas respiratórios, convence-o a executar a suprema vingança de suas vidas: matar Rudy Kurlander, líder de bloco em Auschwitz e destruidor de suas famílias.

A partir daí, Zev localiza "quatro" Rudys. Evidentemente, vai percebendo que não se trata do Rudy procurado. O primeiro é o papel de ninguém menos que Bruno Ganz. O "terceiro", por exemplo, era um simples cozinheiro do exército alemão. Zev encontra o filho, John Kurlander (Dean Norris), policial. O pai acabara de morrer e possui um cão (pastor alemão) chamado Eva... Quando tudo caminha para a óbvia conclusão de que finalmente o alvo foi encontrado, acontece a primeira reviravolta...

Mas o ápice é, mesmo, o quarto e último Rudy (Jürgen Prochnow). Quem acompanha a carreira de Edoyam sabe que nada em seus filmes é óbvio. E, evidentemente, não há justificativa para contar aqui o desfecho, o que seria odioso... Digamos que Max tem sua vingança completa.

Um artigo sobre Atom Egoyan e o filme pode ser lido aqui. 

Essa é a última história que podemos contar sobre o Holocausto com sobreviventes e perpetradores do genocídio ainda vivos. Daqui a uns cinco anos, quando todos estiverem mortos, “Memórias secretas” se tornará um filme de época — analisa Egoyan, que se inspirou no roteiro do estreante Benjamin August. — É contada sem recursos de flashbacks. Então, não há momentos de reconstrução, a não ser na memória dos personagens. A trama sobre o Holocausto é incomum, por ser contada no nosso tempo, com efeitos residuais no presente.

 

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