Seguindo a Comédia Humana de Balzac, na edição organizada pelo Paulo Rónai (mas não por ele traduzida; no caso desta novela, por Vidal de Oliveira) e publicada pela Globo, vamos ao Baile de Sceaux.
A novela, passada entre 1815 e 1825, não é daquelas mais lembradas quando se fala em Balzac. Como o próprio Rónai disse, comentando outro texto da Comédia, não se poderia esperar algo diferente de um sujeito que se deu ao despeito de escrever obras-primas como Ilusões Perdidas, Eugène Grandet entre outros.
Pode ser lida de várias formas; como já se disse em diversos lugares, é uma história "edificante", que mostra a punição dada pela vida a Emília que, depois de passar anos rejeitando caprichosamente seus pretendentes, acaba tendo de se casar com o primeiro que lhe aparece. Ela queria a todo custo se casar com um "par" do reino. Estamos num período de restauração da ordem monárquica, e seu pai, o conde de Fontaine, é um fiel servidor da casa dos Bourbons.
Há algo de muito atual e pertinente para o lado de cá do Atlântico:
Tal como essas pessoas generosas que não mandam embora um servidor em tempo de chuva, o sr. de Fontaine contraiu um empréstimo sobre sua propriedade para acompanhar a monarquia em fuga, sem saber se essa cumplicidade de emigração lhe seria mais propícia do que sia dedicação passada. Mas tendo observado que os companheiros de exílio estavam mais nas boas graças dos que os valentes que, outrora, tinham protestado, de armas na mão, contra o estabelecimento da República, talvez esperasse achar, nessa viagem ao estrangeiro, mais proveitos do que num serviço ativo e perigoso no interior.
O pobre pai entrega os pontos: não vai mais procurar marido para a filha.Lava as mãos. Mais tarde, no entanto, percebe que ela está se envolvendo com um misterioso Maximiliano Longueville, que jamais revela sua real situação.
O velho conde de Kergarouet é claro: não o conhece "por parte de Eva, nem por parte de Adão". No entanto, alerta para uma série de qualidades que o tal Maximiliano possui. A soberba de Emília a leva a desprezá-lo - afinal, ela quer o pariato; quer um par do reino.
Acaba se casando com o tio, o tal conde Kergarouet, com seus setenta e tantos anos de idade e que recebe um vice-almirantado. Vira condessa, como sempre sonhou. E, anos depois, recebe a visita de um visconde de Longueville - a morte do pai e a do irmão, vítima este último da inclemência do clima de Petersburgo, haviam colocado sobre a cabeça de Maximiliano as plumas hereditárias do chapéu do pariato. Sua fortuna igualava seus conhecimentos e seus méritos. Justamente, na véspera, sua moça e ardorosa eloquência tinha esclarecido a assembleia. Naquele momento ele surgira ante os olhos da triste condessa, livre e aureolado, com todos os dons que ela sonhara para o seu ídolo.
Para além desta historinha, há um interessante panorama da França à época da Restauração; todos queriam, no final das contas, um bom título de nobreza (e pensar que, menos de vinte anos antes, boa parte dos seus detentores perderam a cabeça nas guilhotinas...).
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