Por pouco a semana não acaba sem seu conto...
Varlam Chalámov (1907-1982) passou 22 anos em um gulag. Desta experiência pavorosa surgiram os Contos de Kolimá, publicados inicialmente como samizdat na Europa ocidental. Morreu cego e surdo, num hospital psiquiátrico, onde foi internado contra a sua vontade.
O conto da semana - Xerez - integra a Nova Antologia do Conto Russo, da editora 34. Foi traduzido diretamente do russo por Nivaldo dos Santos.
Mas se, como era evidente, não lhe caberia ser eterno numa imagem humana, como unidade física, ao menos ele mereceria a eternidade artística. Chamaram-no de primeiro poeta russo do século XX, e ele sempre achou que realmente o era. Acreditava na eternidade de seus versos. Não teve seguidores, mas acaso os poetas os suportam?
Sim, o conto é uma homenagem ao poeta Ossip Mandelstam (1891-1938), preso na década de 30 nos expurgos stalinistas, morto em um gulag e reabilitado em 1956. No conto, os últimos instantes do poeta, algo que não presenciou.
Na narrativa, o poeta adquire forças no momento de sua morte; forças que vêem dos seus poemas.
Agora estava tão visível, tão sensivelmente claro, que a inspiração é que era a vida; diante da morte foi-lhe permitido saber que a vida era inspiração, precisamente a inspiração.
E ele se alegrou por lhe ser permitido saber essa derradeira verdade.
Profeticamente, a descrição da morte de Mandelstam é praticamente a mesma que poderia ser feita da do próprio Chalámov.
Ao anoitecer, ele morreu.
Mas deram baixa dois dias depois. Seus engenhosos vizinhos conseguiram, durante a distribuição de pães, receber por dois dias a cota do defunto; e este erguia a mão como uma marionete. Portanto, ele morreu antes da data de sua morte, um detalhe bem importante para seus futuros biógrafos.
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