A reedição da obra de Balzac, naquela que é considerada a melhor tradução do mundo da Comédia Humana, por Paulo Rónai, é um acontecimento a ser celebrado. Já foram editados os quatro primeiros volumes. Um bom projeto: ler todos os romances e contos...
Na última semana, li o primeiro de todos - La maison du chat-qui-pelote, Ao Chat-qui-pelote, na versão de Rónai.
Disse Balzac:
A ideia primeira de A Comédia Humana foi para mim, a princípio, como que um sonho, como um desses projetos impossíveis que se acariciam e se deixam voar; uma quimera que sorri, que exibe seu semblante feminino e logo em seguida distende as asas, subindo para um céu fantástico. Mas a quimera, como tantas quimeras, transforma-se em realidade; tem suas imposições e suas tiranias, às quais se é forçado a ceder. Essa ideia nasceu de uma comparação entre a humanidade e a animalidade.
Como bem apresenta Rónai, este primeiro romance já contém muito da Comédia. A vida dos comerciantes; a descrição esmerada de Paris, a presença de personagens que efetivamente existiram (como o pintor Girodet), os conflitos entre classes e os casamentos... Para os advogados, as menções ao Tribunal do Comércio e as sentenças dos cônsules. Balzac é, aliás, um curso de Direito dos melhores que há por aí...
A Maison do título é uma casa de tecidos, na rua Saint Denis, comandada pelo senhor Guillaume, um comerciante da velha guarda, um desses notáveis guardiães dos antigos costumes. Muito habilidoso - sobreviveu, como poucos, a um congelamento que de fato existiu na França - o tal Maximum (dá-lhe Rónai e suas notas do tradutor). O casal tem duas filhas, Augustina e Virgínia
Virgínia e José Lepas, um caixeiro de confiança do velho, são o casal "racional"; meio sem sal, sem graça, mas são eles que tocam o barco e vivem convencionalmente bem. E olha que Lepas estava interessado, inicialmente, em Augustina, a mais nova. Mas não se casa a mais nova antes da mais velha. Já Augustina cai na besteira de se apaixonar por um pintor, Theodore de Sommervieux; inicialmente o moço corresponde a todas as expectativas, mas a filha do comerciante nunca se encaixa plenamente no mundo do intelectual.
É lógico que isso não duraria para sempre. Não só Theodore procura a duquesa de Carigliano - que voltará em diversos momentos ao longo da Comédia -, em busca de coisas que a filha do comerciante não pode lhe proporcionar (sequer entender) - a própria Augustine lhe implora por dicas sobre a arte da sedução. E é claro que isso não vai dar certo.
Balzac encerra o romance: "As humildes e modestas flores, desabrochadas nos vales, morrem talvez", dizia ele de si para si, "quando são transplantadas para muito perto do céu, na região onde se formam as tormentas, onde o sol é escaldante".
"Au siecle de Massapant" , serie com vários programas foi transmitido aqui no Brasil pela TV5 há cerca de 2 ou 3 anos. Quanto a edição brasileira by Paulo Ronai, valem as notas para cada romance/conto/novela assim como a grande introdução . E.
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