Pular para o conteúdo principal

A Fonte das Mulheres, de Radu Mihaileanu



Na locadora - salvo engano, o filme não circulou nos cinemas do Brasil ou, ao menos, em Belo Horizonte - mais um filme do franco-romeno Radu Mihaileanu: A Fonte das Mulheres (2010). 

Ao contrário dos dois filmes anteriores, os excelentes Trem da Vida e O Concerto, aqui o humor é usado com moderação - o que não significa que não apareça, mas sempre de forma mais sutil. Uma greve de sexo, como em Lisístrata, de Aristófanes (como o próprio diretor afirmou em várias entrevistas) mas não para que os homens parem a guerra. O que elas querem é que os homens de uma pequena aldeia no norte da África se mexam e as ajudem a buscar água nas montanhas.

As mulheres fazem isso à séculos, dizem todos. No trajeto, sofrem acidentes, perdem filhos ainda em gestação. Os homens, se antigamente viviam em guerras, hoje ficam no bar, conversando, bebendo e fumando. Até que Leila (Leila Bekhti) resolve dar um basta à situação e propõe o movimento grevista.

Há momentos bem cômicos. No início, um grupo de turistas assiste a uma exibição das mulheres, que cantam, em árabe, que elas são exploradas pelos maridos que não buscam água. Os turistas, claro, acham que aquela música tem séculos de tradição... O dinheiro arrecadado com o turismo, aliás, é desviado sistematicamente.

Os homens temem que a eletricidade e a água encanada cheguem às casas. O que as mulheres farão? O celular fica pendurado em um varal no pátio da casa.

A revolta dos homens chega às raias do desespero. Alguns se põem a espancar as esposas. A comunidade entra em um completo caos. O professor, um jovem "ilustrado" e noivo de Leila, fica em uma situação delicada, entre o apoio à mulher e a desconfiança dos demais homens. 

Quando a situação é finalmente resolvida, com o canalização da água até as casas, não faltam políticos querendo tirar uma casquinha - afinal, todos sempre apoiaram o movimento das mulheres... 

Se não fosse um ótimo filme, já valeria para que víssemos o quanto temos em comum com países como os do norte da África. Não perca.


Comentários

  1. Filme muito bom, acabei de assistir e vou indicá-lo no facebook. Vale a pena e prestar atenção nos diálogos e na força que cada um de nós carrega,quando não acomodamos aquilo que nos impõem como tradição.

    ResponderExcluir
  2. Acabei de assistir e gostei muito filme, vou recomendá-lo no facebook. É um filme reflexivo,mas feito de forma alegre,agradável.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

O conto da semana, de Italo Calvino

O conto da semana é novamente de Calvino – Quem se contenta – e integra Um General na Biblioteca : Havia um país em que tudo era proibido. Ora, como a única coisa não-proibida era o jogo de bilharda, os súditos se reuniam em certos campos que ficavam atrás da aldeia e ali, jogando bilharda, passavam os dias. E como as proibições tinham vindo paulatinamente, sempre por motivos justificados, não havia ninguém que pudesse reclamar ou que não soubesse se adaptar. Passaram-se os anos. Um dia, os condestáveis viram que não havia mais razão para que tudo fosse proibido e enviaram mensageiros para avisar os súditos que podiam fazer o que quisessem. Os mensageiros foram àqueles lugares onde os súditos costumavam se reunir. - Saibam – anunciaram – que nada mais é proibido. Eles continuaram a jogar bilharda. - Entenderam? – os mensageiros insistiram – Vocês estão livres para fazerem o que quiserem. - Muito bem – responderam os súditos – Nós jogamos bilharda. Os mensagei

Conto da semana, de Jorge Luis Borges - Episódio do Inimigo

Voltamos a Borges. Este curto Episódio do Inimigo está no 2º volume das Obras Completas editadas pela Globo. É um bom método para se livrar de inimigos: Tantos anos fugindo e esperando e agora o inimigo estava na minha casa. Da janela o vi subir penosamente pelo áspero caminho do cerro. Ajudava-se com um bastão, com o torpe bastão em suas velhas mãos não podia ser uma arma, e sim um báculo. Custou-me perceber o que esperava: a batida fraca na porta. Fitei-o, não sem nostalgia, meus manuscritos, o rascunho interrompido e o tratado de Artemidoro sobre os gregos. Outro dia perdido, pensei. Tive de forcejar com a chave. Temi que o homem desmoronasse, mas deu alguns passos incertos, soltou o bastão, que não voltei a ver, e caiu em minha cama, rendido. Minha ansiedade o imaginara muitas vezes, mas só então notei que se parecia de modo quase fraternal, com o último retrato de Lincoln. Deviam ser quatro da tarde. Inclinei-me sobre ele para que me ouvisse. - Pensamos que os anos pa

A Magna Carta, o Rei João e Robin Hood

É claro que o rei João não se ajoelhou aos pés de Robin Hood, mas é interessante lembrar hoje, dia 15 de junho, quando a Magna Carta completa 800 anos, a ligação entre a ficção e a História, na criação do que pode ser considerado o mais importante documento da democracia. João Sem-Terra. John Lackland. Nasceu em Oxford, 1166, o quarto filho de Henrique II, o que lhe custou toda possibilidade de receber uma herança - daí seu apelido. Quando o irmão Ricardo (Coração de Leão) assume o trono, em 1189, recebe mais um golpe e, obviamente, irá fazer de tudo para tomar o poder. Em 1199, Ricardo é morto e João, finalmente, torna-se rei. Para custear as guerras, Ricardo aumentou drasticamente os impostos a um nível inédito na Inglaterra. Para piorar, ao retornar de uma Cruzada, foi feito prisioneiro dos alemães. Há quem diga que o resgate cobrado (e pago) seria equivalente a 2 bilhões de libras. Na época de João, o cofre estava vazio, mas as demandas, explodindo como n