A argentina Samanta Schweblin (1978) foi publicada pela primeira vez no Brasil pela editora Benvirá (tradução de Joca Reiners Terron). Se não me falha a memória, o lançamento foi na Bienal Internacional de Brasília. Um dos contos que integram o volume Pássaros na Boca foi publicado, em outubro de 2010, no site Words Without Borders, em seu número especial sobre as novas vozes da literatura argentina.
Em Conservas, a autora desenvolve um conto fantástico, ao mesmo tempo em que quebra uma ideia idílica da maternidade. Teresinha, grávida, está bastante insegura; as questões que a atormentam não são muito originais: Manuel, seu marido, a sogra, os preparativos para a chegada do bebê... Ela não está nada feliz com a situação e suas perspectivas são bastante negativas.
Mas Schweblin consegue esconder do leitor, com eficiência, a real intenção de Teresinha - afinal, ela quer ou não o filho?
E todos nós somos levados a pensar na sua preocupação com uma gravidez tranquila e segura, com os mais modernos e eficazes métodos científicos e psicológicos...
A visita ao famoso dr. Weisman nos leva a um determinado caminho. Ele prescreve uma dieta rigorosa a ser seguida pela gestante.
Mas, à medida em que o conto avança, percebemos que estamos diante de uma "gravidez ao contrário", ou à Benjamin Burton...
Samanta Schweblin consegue manter esse segredo até, rigorosamente, a última frase, que certamente causa desconforto no leitor mais habituado à praga politicamente correta. Ela vem sendo saudada como descendente direta de Cortázar, pela inserção do fantástico em situações comuns do dia-a-dia. Uma grande descoberta.
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