Na BEF 2011 (A. Hemon) surgem as 14 Pequenas Histórias, do dinamarquês Peter Adolphsen. As histórias foram extraídas, por sua vez, de duas coletâneas anteriores (Pequenas Histórias e Pequenas Histórias,2).
No Relatório sobre a língua Gitii, é quase imediata a lembrança de Tlön, Uqbar, Orbis Tertius. Se o argentino descobre um planeta numa enciclopedia secreta, aqui Adolphsen também "descobre" um idioma "desaparecido" entre os séculos 17 e 18 - uma língua com apenas uma vogal, e cujos falantes se comunicam apenas e exclusivamente com verbos. Um povo que via o mundo em verbos e, consequentemente, em ações. Evidentemente, a língua foi descrita por um missionário, Bartolomeo Jimenez Ribero...
Em outra destas histórias, há cerca de 2 bilhões de anos, seres inteligentes que não possuíam corpos, consistindo em nuvens de gás controladas pelas mentes, que unidas formavam a memória coletiva. Chegaram na Terra no Cretáceo e são seduzidos pelo universo táctil - e passam a habitar organismos terrestres.
Ou a Terra saindo do seu eixo, acabando com conceitos como dia, noite, inverno, verão - e adotando a Lua como divisora do tempo. Ou (um dos mais interessantes) em Deus, Liber et Pagina, uma descrição de Deus, abrindo o Livro da Criação e arrancando-lhe uma página - do contrário, o Livro seria perfeito e Sua existência inviabilizada - afinal, um dos Seus atributos é o de ser a única entidade perfeita... O Universo é criado à medida em que a história do Livro se desenvolve aos olhos do Criador.
Peter Adolphsen apresenta estas histórias realmente muito curtas, às vezes menos de uma página, muitas delas mais parecidas com esboços de textos maiores. Além de Borges, em alguns momentos lembram as fábulas e parábolas de Kafka. Já esteve no Festival de Literatura de Buenos Aires em 2010.
Comentários
Postar um comentário