Pular para o conteúdo principal

O Céu dos Suicidas, de Ricardo Lísias


O Céu dos Suicidas
Ricardo Lísias
Alfaguara, 2012
186 p.

Nunca havia lido nada de Ricardo Lísias. Este O Céu dos Suicidas foi lançado em abril. Um colecionador sem coleção,  chamado Ricardo Lísias, professor universitário e em crise pelo suicídio de André, seu grande amigo. 

O fato de o personagem ser um colecionador - ou ex-colecionador - me lembra uma outra leitura recente - a do Museu da Inocência, de Pamuk. Lá, o narrador - Ohran - organiza um museu que retrata a Istambul dos anos 70, gravitando em torno de sua amada e proibida Fusun; aqui, um colecionador - Ricardo - também às voltas com conflitos dentro da família, culpas e  perdas irreparáveis (no caso, o amigo que procurou a sua ajuda e em seguida enforcou-se) dá cursos sobre o assunto - seu conhecimento é o que lhe sobrou, já que não guarda mais nenhuma de suas antigas coleções.


Tanto Lisias quanto Pamuk têm que esclarecer: não sou o Ricardo! Não sou o Orhan! Estamos na ficção, por mais que haja um forte componente autobiográfico em cada um dos romances.


Interessante como uma das suas coleções mais curiosas mostra o milagre da multiplicação dos zeros e das moedas do Brasil nas décadas de 80/90. E, também, as confusões em que se mete quando resolve ir a Beirute investigar uma possível conexão do tio-avô com o terrorismo.


Uma observação: esta semana o autor dará prosseguimento ao seu curso sobre oito grandes romances - no caso, Auto de Fé, de Elias Canetti, pelo que lamento profundamente não morar em São Paulo para assistir.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O conto da semana, de Italo Calvino

O conto da semana é novamente de Calvino – Quem se contenta – e integra Um General na Biblioteca : Havia um país em que tudo era proibido. Ora, como a única coisa não-proibida era o jogo de bilharda, os súditos se reuniam em certos campos que ficavam atrás da aldeia e ali, jogando bilharda, passavam os dias. E como as proibições tinham vindo paulatinamente, sempre por motivos justificados, não havia ninguém que pudesse reclamar ou que não soubesse se adaptar. Passaram-se os anos. Um dia, os condestáveis viram que não havia mais razão para que tudo fosse proibido e enviaram mensageiros para avisar os súditos que podiam fazer o que quisessem. Os mensageiros foram àqueles lugares onde os súditos costumavam se reunir. - Saibam – anunciaram – que nada mais é proibido. Eles continuaram a jogar bilharda. - Entenderam? – os mensageiros insistiram – Vocês estão livres para fazerem o que quiserem. - Muito bem – responderam os súditos – Nós jogamos bilharda. Os mensagei

Conto da semana, de Jorge Luis Borges - Episódio do Inimigo

Voltamos a Borges. Este curto Episódio do Inimigo está no 2º volume das Obras Completas editadas pela Globo. É um bom método para se livrar de inimigos: Tantos anos fugindo e esperando e agora o inimigo estava na minha casa. Da janela o vi subir penosamente pelo áspero caminho do cerro. Ajudava-se com um bastão, com o torpe bastão em suas velhas mãos não podia ser uma arma, e sim um báculo. Custou-me perceber o que esperava: a batida fraca na porta. Fitei-o, não sem nostalgia, meus manuscritos, o rascunho interrompido e o tratado de Artemidoro sobre os gregos. Outro dia perdido, pensei. Tive de forcejar com a chave. Temi que o homem desmoronasse, mas deu alguns passos incertos, soltou o bastão, que não voltei a ver, e caiu em minha cama, rendido. Minha ansiedade o imaginara muitas vezes, mas só então notei que se parecia de modo quase fraternal, com o último retrato de Lincoln. Deviam ser quatro da tarde. Inclinei-me sobre ele para que me ouvisse. - Pensamos que os anos pa

Conto da semana - Saki

O conto da semana é   A Porta Aberta , de Saki, ou melhor, Hector Hugh Munro (1870-1916). Saki nasceu na Índia; o pai era major britânico e inspetor da polícia de Burma. O autor morreu no front francês durante a I Guerra. Já havia falado dele num post sobre a coleção Mar de Histórias , de Ronai e Aurélio, bem como um curta nacional. Ele está no volume 9. Mas apenas mencionei este conto, de cerca de cinco páginas. O vídeo acima é uma produção britânica de 2004 com Michael Sheen (o Tony Blair do filme "A Rainha") como Framton Nuttel, e Charlotte Ritchie como Vera, a menina de cerca de quinze anos que "faz sala" enquanto sua tia não chega. E começa a contar ao visitante sobre a terrível "tragédia" que se abateu sobre a tia, a Sra. Sappleton. O conto é um dos mais famosos de Saki, conhecido por tratar do lado cruel das crianças.