No One is Here Except All of Us
Ramona Ausubel
Riverhead Books
Riverhead Books
A dica desse livro saiu no blog da Absynthe; li na versão Kindle.
A autora, americana do Novo México, se inspirou nos relatos de sua avó romena. Nos Cárpatos, ao norte da Romênia, nove famílias vivem em Zalischik. Quem nos narra a história é Lena, de 11 anos, filha mais nova de um casal que planta repolhos. Eles vivem isolados do resto do mundo.
A autora, americana do Novo México, se inspirou nos relatos de sua avó romena. Nos Cárpatos, ao norte da Romênia, nove famílias vivem em Zalischik. Quem nos narra a história é Lena, de 11 anos, filha mais nova de um casal que planta repolhos. Eles vivem isolados do resto do mundo.
Em 1939, com o início da guerra, os adultos ficam apreensivos. Na noite de 3 de setembro, encontram uma mulher às margens do rio - essa mulher será sempre chamada de "estranha" - que relata os horrores que presenciou - seu vilarejo arrasado do mapa; seus pais, irmã, marido e filhos assassinados, com requintes de crueldade.
O pânico aumenta, e surge então a ideia que irá agradar a todos: refundar o mundo. Como se fizéssemos um "control-alt-del", e tudo começasse novamente. Isso ocorre nas primeiras páginas, enquanto os habitantes acompanham a leitura do Genesis. A população faz uma força tremenda para realmente acreditar nisso.
Assim, acatando a ideia de Lena, negam qualquer relação com o mundo exterior; ignoram tempo e história. Empregos, maridos, uma criança é "realocada". Vivem por alguns anos nesse idílio.
Algumas oportunidades não podem ser desperdiçadas: umas mulheres trocam de maridos. Lena é "dada" como filha para os tios - e é interessante ver como ela é obrigada a virar (mais) criança, e rapidamente se tornar uma jovem noiva, para que a nova mãe, Kayla, quer "sentir a maternidade". Ela sempre estará em contato com seus quatro pais. Ela se casa com um sujeito, tem dois filhos (os primeiros a nascer no novo mundo...). Igor, porém, é incapaz de suportar o fardo da paternidade.
A primeira parte do romance tem esse tom de fantástico; a vila consegue permanecer alheia à guerra. O celeiro se torna um templo; no teto é pintado um céu estrelado. Esse lado fantástico, em tom de fábula, lembra A Noiva do Tigre de Tea Obreht (e, como este, é o seu romance de estreia, mas bastante superior). As cabras, os casamentos, o vilarejo - tudo lembra (como muitos críticos notaram) as imagens de Chagall.
Mas, obviamente, isso não duraria para sempre. A "estranha", ficamos sabendo, acompanha as notícias do "velho mundo" pelo rádio. E, quando a guerra finalmente chega aos habitantes do "novo mundo", o marido é imediatamente feito prisioneiro - outro momento interessante é sua relação com Francesco, que o capturou.
A partir daí, a história toma outro rumo. Um realismo nada fantástico; já não há aquele tom de fábula. O destino dos filhos (Solomon, o mais velho, e seu irmão, "The Beautiful Baby") é terrível, como também o da população do vilarejo, dizimada e metralhada ou desaparecida no rio.
E essa habilidade em caminhar entre duas formas, a fábula e o realismo, tão diversas de contar uma história trágica, é o grande achado da autora, além de uma prosa bastante refinada:
"I felt like a vessel, the container itself meaningless, yet into it people kept pouring ashes, tears, blood, and calling me holy. As much as I wanted to explain the mistake, I knew they would brush me aside. A person who wants to believe lives in a world full of proof."
Assim, acatando a ideia de Lena, negam qualquer relação com o mundo exterior; ignoram tempo e história. Empregos, maridos, uma criança é "realocada". Vivem por alguns anos nesse idílio.
Algumas oportunidades não podem ser desperdiçadas: umas mulheres trocam de maridos. Lena é "dada" como filha para os tios - e é interessante ver como ela é obrigada a virar (mais) criança, e rapidamente se tornar uma jovem noiva, para que a nova mãe, Kayla, quer "sentir a maternidade". Ela sempre estará em contato com seus quatro pais. Ela se casa com um sujeito, tem dois filhos (os primeiros a nascer no novo mundo...). Igor, porém, é incapaz de suportar o fardo da paternidade.
A primeira parte do romance tem esse tom de fantástico; a vila consegue permanecer alheia à guerra. O celeiro se torna um templo; no teto é pintado um céu estrelado. Esse lado fantástico, em tom de fábula, lembra A Noiva do Tigre de Tea Obreht (e, como este, é o seu romance de estreia, mas bastante superior). As cabras, os casamentos, o vilarejo - tudo lembra (como muitos críticos notaram) as imagens de Chagall.
Mas, obviamente, isso não duraria para sempre. A "estranha", ficamos sabendo, acompanha as notícias do "velho mundo" pelo rádio. E, quando a guerra finalmente chega aos habitantes do "novo mundo", o marido é imediatamente feito prisioneiro - outro momento interessante é sua relação com Francesco, que o capturou.
A partir daí, a história toma outro rumo. Um realismo nada fantástico; já não há aquele tom de fábula. O destino dos filhos (Solomon, o mais velho, e seu irmão, "The Beautiful Baby") é terrível, como também o da população do vilarejo, dizimada e metralhada ou desaparecida no rio.
E essa habilidade em caminhar entre duas formas, a fábula e o realismo, tão diversas de contar uma história trágica, é o grande achado da autora, além de uma prosa bastante refinada:
"I felt like a vessel, the container itself meaningless, yet into it people kept pouring ashes, tears, blood, and calling me holy. As much as I wanted to explain the mistake, I knew they would brush me aside. A person who wants to believe lives in a world full of proof."
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