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A Ponte Invisível, de Julie Orringer



A Ponte Invisível
Julie Orringer
Tradução: Rubens Figueiredo
Companhia das Letras, 728 p.

Um grande romance de estreia da americana Julie Orringer (1973), cujo primeiro capítulo, disponibilizado pela editora, pode ser lido aqui. A autora se baseou na história de seu avô que, como o personagem principal Andras Lévi, era um jovem húngaro impedido de estudar arquitetura em seu país em razão de uma lei de 1920 que restringia o acesso dos judeus húngaros à universidade. Era a chamada lei numerus clausus, que estabelecia um limite rígido de vagas para os judeus. Ao que consta, parece ter sido a primeira lei antissemita europeia desde o final da Primeira Guerra.

Andras vai então a Paris estudar arquitetura. Lá conhece Klara Morgenstern, que guarda um segredo de sua juventude (bom, demos um desconto; em 1937, quando se inicia o romance, ela tem trinta e dois anos, mas o fato ocorreu quando ela tinha cerca de quinze...). O irmão de Andras, Tibor, ironicamente é obrigado a sair da Hungria democrática para estudar medicina na Itália de Mussolini...

Orringer foi uma atenta ouvinte da história do avô. Ele era, de fato, leitor da revista judaica húngara Passado e Futuro - tal como Andras. E também teve problemas quando o governo húngaro proibiu a transferência de recursos para os judeus no exterior - o que os afetou em suas bolsas de estudos. São obrigados a abandonar a França. Mas a filha de Klara, por sua vez, decide ir para os Estados Unidos.

Com o forçado retorno à Hungria, a situação começa realmente a se deteriorar. O segredo de Klara é revelado; Andras é convocado para os campos de trabalhos forçados. Interessante, aqui, é como o governo do Almirante Horthy, aliado de Hitler, é visto como, no final das contas, um grande protetor dos judeus -  ao considerá-los úteis para os esforços de guerra. 




É claro que a situação não durou para sempre, e em março de 1944, com a ocupação alemã, houve o início dos massacres industriais de judeus na Hungria e as deportações para os campos de concentração.




Neste momento, cerca de 500 mil judeus húngaros foram enviados a Auschwitz. Horthy cairia logo depois, substituído por Ferenc Szalasi, e os trabalhadores forçados se transformaram em prisioneiros de guerra.


O romance de Orringer tem tudo para dar um grande filme. Ela foi extremamente feliz na ambientação, tanto em Paris quanto na Hungria. Interessante, também, as passagens sobre o desejo de muitos personagens - mas não todos - de fugir para a tão sonhada Palestina.


Mas não é, definitivamente, um livro sobre a guerra propriamente dita, mas da vida judaica na Hungria da época; o cotidiano e um cuidado muito grande com a caracterização dos personagens - ainda que, particularmente, ache que os irmãos Lévi (além de Andras e Tibor, Matyas) ficaram "perfeitos" demais em suas atitudes e princípios. Um livro definitivamente a ser recomendado.

Comentários

  1. Terminei de ler hoje. Nossa, que livro! Realmente, o filme seria belíssimo. Excelente estreia da autora!

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  2. O almirante Horthy daria um otimo romance. Provavelmente já escrito e que nao chega ao publico brasileiro. Uma personalidade que merece ser melhor estudada com o devido distanciamento historico. Conseguiu se equilibrar num mundo dividido ideologicamente, da 1a a 2a guerras mundiais. Já a familia Levy do livro so falta tirar a megasena... E.

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