Li o conto poucos
dias depois de sofrer da minha já famosa crise de hérnia de disco num quarto de
hotel em Brasília, e confesso que me lembrei imediatamente do meu próprio
incidente.
O principal mérito do
conto é a forma como a autora mostra os pensamentos que vêm à mente da
narradora enquanto espera por um hipotético socorro. Talvez o mais correto seja afirmar que esperava pela morte. Ela
se recorda das várias histórias de
decadência humana que me contaram ao longo dos anos para me confortar, diz,
ao se referir à morte súbita de Ilmari, enquanto imagina um destino bem
diferente para ela própria. Ela pensa no filho, para quem vai deixar suas economias
– mas ele não aparece, nem mesmo depois do resgate, no hospital.
Há também uma
descrição da perda progressiva de seus sentidos enquanto imagina seu futuro –
com certo sarcasmo: relações sexuais...
quem desejaria tocar meu corpo semi-paralisado? Eu observava a Semana Santa –
eu estava tendo minha própria e autêntica Paixão.
Ao final, o resgate,
no domingo à noite. Mas nenhum de seus amigos está lá, nem mesmo seu filho.
Lintunen fala da
família e da solidão, do ato de morrer e de sobreviver; fala de corpo e também
de pensamentos. Como ela própria afirma em entrevista ao site da editora da
antologia, Dalkey Archive: um escritor não tem necessariamente que viajar aos
confins do mundo para ter uma ideia, para encontrar inspiração. No entanto, os
movimentos ilimitados dos pensamentos de uma pessoa são um requisito básico
para um trabalho literário.
Uma grande lição de
escrita.
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