ÓBITO
Decretou-se naquele dia
o fim súbito da poesia
O único poeta em cena
jamais havia escrito,
cantado, ouvido, lido,
sequer um poema,
e nada mudou...
Na memória dos que um dia
visitaram qualquer linha
restou rastros de azia
e a incerteza de um triste fonema
que se perdia
e nada dizia
Enterrado vivo,
um verso nunca lido
dizia que o poema,
enfermo de enfisema,
ressuscitaria,
mas na missa do sétimo dia
um padre lingüista
comungou num pobre latim
a imprestabilidade da poesia;
encomendou a Homero,
Virgilio e Verlaine,
o defunto indigente:
“que tirasse da nossa mente
todo ruído
ou palavra indecente
que tivesse mais de um sentido”
Por isso, naquele dia
o Homem forte se fazia:
sem tal patologia,
bebia a sorte
da morte que não sentia.
(Sentimento do Fim do Mundo, Editora Patuá, 2011)
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