Edmund de Waal é um ceramista inglês, que até então não havia se arriscado nas letras. O sobrenome esconde sua origem – é descendente da outrora poderosa família Ephrussi, que até a Segunda Guerra rivalizava com os Rothschild.
O fato de ter recebido uma coleção de 264 miniaturas japonesas o levou a pesquisar como esses objetos chegaram à sua família, e como passaram por diversas gerações. E assim, surge uma história de uma família desde Charles Ephrussi (patrono e primeiro grande colecionador de quadros de impressionistas como Manet e Renoir) até o presente.
Em Paris, Charles Ephrussi adquiriu a coleção numa época em que o Japão despertava enorme fascínio entre os parisienses no final do século XIX. No entanto, o clima a partir da Questão Dreyfus o levou a alguma cautela, e seu “gosto” foi direcionado para a arte francesa do século anterior – uma boa pedida para um judeu demonstrar seu senso de nacionalidade numa época em que sobre eles recaía a suspeita de traição em favor da Alemanha...
E assim, a coleção é transformada em presente de casamento do primo Viktor, de Viena. Os judeus haviam obtido a igualdade de direitos em 1867; o Imperador era uma garantia – não tolerava os pogroms. Com sua morte, em 1916, as coisas começam a mudar.
Acompanhamos o início e o fim da Primeira Guerra, com os primeiros sinais de antissemitismo explícito; Hitler e o fim de tudo, com a anexação da Áustria pelos nazistas. De Waal mostra a mudança de clima e o início das leis raciais – o Palácio Ephrussis, na Ringstrasse, Viena, é naturalmente expropriado pelos nazistas austríacos (Viktor é espancado pelos oficiais que entram na sua residência, quebrando tudo, e acaba “cedendo” todos os seus bens). Mas consegue sair do país - no passaporte, autorização de “ida sem retorno” - e parte para a Inglaterra com a filha Elisabeth e seu marido, o holandês Hendrik de Waal. Apenas com uma pequena mala. Sem a coleção.
Seu filho Iggie, que havia se mudado para Nova York antes do pai, se alista no exército americano, e se destaca no setor de inteligência. E, quando o conflito acaba, encontra-se com Anna, antiga empregada no Palácio Ephrussi (agora sede dos aliados na Viena ocupada) – ela havia guardado a coleção no dia da invasão da propriedade. Os austríacos que expropriaram os judeus eram agora cidadãos respeitados; a Áustria se assumiu como vítima dos alemães, e não como ativa participante do regime – algo que De Waal critica com ênfase. Sobre Anna, não se sabe mais nada – sequer seu sobrenome, nem o que lhe aconteceu depois do encontro...
Iggie se muda para o Japão; é dele, o tio-avô, que Edmund recebe a coleção, que agora está em sua casa, em Londres.
Segundo Edmund, para conciliar o trabalho de ceramista com a pesquisa, e ao mesmo tempo continuar casado e com seus três filhos, dedicava-se ao livro das 10 da noite às 2 da manhã – o que, por coincidência, é o horário em que costumo escrever...
Mais um livro que deve ser aguardado por aqui. Alguma editora se habilita?
Esse blog e excelente. Nunca tinha ouvido falar nem do livro ou do autor. Os editores estao comendo mosca...
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