Pular para o conteúdo principal

Sentimento do Fim do Mundo, de Willian Delarte





Editora: Patuá
ISBN 978-85-64308-07-7
132 páginas
2011


Este post inaugura a primeira parceria da Biblioteca, com a Editora Patuá, de São Paulo. É uma oportunidade para conhecer a produção literária brasileira contemporânea.

Willian Delarte inscreve seu nome, com seu Sentimento do Fim do Mundo, entre os autores brasileiros da novíssima geração. Dialoga com Carlos Drummond de Andrade, com quem chega a ter uma “conversa” logo no início. Se em Sentimento do Mundo (1940), Drummond cuida de um mundo prestes a entrar em guerra (os poemas foram escritos entre 1935 e 1940), o Fim do Mundo está igualmente sintonizado com o nosso tempo – e Delarte já o avisa: entramos todos no Mundo virtual que é global, que é individual, que é tudo o que pregam nossos profetas.

Redes sociais de comunicação, da ciência do consumo eterno, do espírito diminuto globalizado, prossegue. Em Inicialização Operacional Homem Digital 1.0, vê um elemento – justo o único elemento humano -  que teima em não ser “baixado”; em Emergência, esse mesmo elemento é elevado a palavra de ordem. Tal como Drummond, permanece a preocupação com os rumos que tomamos.

No poema de Drummond, tenho apenas duas mãos/e o sentimento do mundo/ mas estou cheio de escravos/ minhas lembranças escorrem/ e o corpo transige/ na confluência do amor.
No Fim do Mundo o poeta não tem mais escravos, mas carrega todas as suas dores e cicatrizes, o peso de todas as lembranças do mundo. Prevalece o olhar pessimista e melancólico, que também é notável em outros versos, como em Minha Inscrição:
Vermes insaciáveis a me consumir
num tom solene de despedida,
trar-me-ão a certeza de que tanto fugi:
de que nada valeu
e que a vida é sempre
conta vencida
Como afirma Monica Simas no prefácio, são versos brutalmente belos.

Comentários

  1. Ainda me encontro de férias,passo para deixar um abraço.

    ResponderExcluir
  2. Não conhecia o autor. Poeta ou tambem prosador? Interessante seria conhecer outras obras do Delarte.

    ResponderExcluir
  3. O velho Fernando Pessoa deixou bons seguidores. Este é um exemplo.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

O conto da semana, de Italo Calvino

O conto da semana é novamente de Calvino – Quem se contenta – e integra Um General na Biblioteca : Havia um país em que tudo era proibido. Ora, como a única coisa não-proibida era o jogo de bilharda, os súditos se reuniam em certos campos que ficavam atrás da aldeia e ali, jogando bilharda, passavam os dias. E como as proibições tinham vindo paulatinamente, sempre por motivos justificados, não havia ninguém que pudesse reclamar ou que não soubesse se adaptar. Passaram-se os anos. Um dia, os condestáveis viram que não havia mais razão para que tudo fosse proibido e enviaram mensageiros para avisar os súditos que podiam fazer o que quisessem. Os mensageiros foram àqueles lugares onde os súditos costumavam se reunir. - Saibam – anunciaram – que nada mais é proibido. Eles continuaram a jogar bilharda. - Entenderam? – os mensageiros insistiram – Vocês estão livres para fazerem o que quiserem. - Muito bem – responderam os súditos – Nós jogamos bilharda. Os mensagei

Conto da semana, de Jorge Luis Borges - Episódio do Inimigo

Voltamos a Borges. Este curto Episódio do Inimigo está no 2º volume das Obras Completas editadas pela Globo. É um bom método para se livrar de inimigos: Tantos anos fugindo e esperando e agora o inimigo estava na minha casa. Da janela o vi subir penosamente pelo áspero caminho do cerro. Ajudava-se com um bastão, com o torpe bastão em suas velhas mãos não podia ser uma arma, e sim um báculo. Custou-me perceber o que esperava: a batida fraca na porta. Fitei-o, não sem nostalgia, meus manuscritos, o rascunho interrompido e o tratado de Artemidoro sobre os gregos. Outro dia perdido, pensei. Tive de forcejar com a chave. Temi que o homem desmoronasse, mas deu alguns passos incertos, soltou o bastão, que não voltei a ver, e caiu em minha cama, rendido. Minha ansiedade o imaginara muitas vezes, mas só então notei que se parecia de modo quase fraternal, com o último retrato de Lincoln. Deviam ser quatro da tarde. Inclinei-me sobre ele para que me ouvisse. - Pensamos que os anos pa

A Magna Carta, o Rei João e Robin Hood

É claro que o rei João não se ajoelhou aos pés de Robin Hood, mas é interessante lembrar hoje, dia 15 de junho, quando a Magna Carta completa 800 anos, a ligação entre a ficção e a História, na criação do que pode ser considerado o mais importante documento da democracia. João Sem-Terra. John Lackland. Nasceu em Oxford, 1166, o quarto filho de Henrique II, o que lhe custou toda possibilidade de receber uma herança - daí seu apelido. Quando o irmão Ricardo (Coração de Leão) assume o trono, em 1189, recebe mais um golpe e, obviamente, irá fazer de tudo para tomar o poder. Em 1199, Ricardo é morto e João, finalmente, torna-se rei. Para custear as guerras, Ricardo aumentou drasticamente os impostos a um nível inédito na Inglaterra. Para piorar, ao retornar de uma Cruzada, foi feito prisioneiro dos alemães. Há quem diga que o resgate cobrado (e pago) seria equivalente a 2 bilhões de libras. Na época de João, o cofre estava vazio, mas as demandas, explodindo como n